A depravada militância ideológica na mídia

Será jornalismo ou apenas arte panfletária? A pergunta se impôs depois do que escreveu Vera Magalhães no Estadão (22/12/19), quando, embora por entrelinhas, chamou de míope e desqualificou quem quer que haja votado ou esteja agora apoiando o governo Bolsonaro.

Um pressuposto é intocável: não existe regime democrático sem liberdade de imprensa. Agora, imprensa livre pressupõe jornalismo investigativo, imparcialidade para denunciar ilícitos (do setor público e do privado) e empenho honesto de manter a população a par do que fazem os seus governantes, sendo inaceitável que qualquer governo seja blindado.

E é ao público que cabe a tarefa de reconhecer e repudiar a farsa grosseira de jornalistas que, pretextando exercício da liberdade de imprensa, manipulam informações, superdimensionando-as ou minimizando-as segundo interesses ideológicos, tudo para o fim de forjar crenças e moldar a opinião pública.

Pois bem, segundo Vera Magalhães, apesar de a iluminada imprensa, durante a campanha de 2018, haver apontado, como diz ela, “todos os vícios da carreira de Jair Bolsonaro”, o eleitorado míope, obtuso e cabeça-dura preferiu não dar ouvidos à mídia.

No seu dizer, os “vícios” seguem sendo apontados pelo “jornalismo profissional” e começam a ser “aceitos por uma parcela do mesmo eleitorado, mas ignorados (até aqui) pelo núcleo duro da militância bolsonarista e por setores da elite liberal.”
Não há por que maquiar-se a realidade. Bolsonaro padece de “incontinência verbal” e, quando pressionado, descamba para a grosseria: no mínimo, inabilidade política.

Também, ele erra em escolhas e decisões, no que não é diferente de qualquer governo, sancionando, por exemplo, dispositivos que deveria vetar. E, agora, o seu primogênito é investigado, suspeito de ilícitos que exigem esclarecimentos.


E o que faz Vera Magalhães: análise crítica? Não! Para começar, ela desconhece que é para tirar o Brasil do buraco que uma parcela pensante apoia o governo, não para proteger a pessoa do presidente.

Depois, ela insufla a decepção do público desavisado, investindo naquele leitor que, em política, tem mais fantasias que conexões com a realidade e que, pouco ou nada compreendendo, se contenta em assimilar uma versão qualquer dos fatos: o que lhe importa é ter uma opinião.

Jornal da cidade

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