Médica é demitida por se recusar a assinar atestado de óbito sem ver o corpo, no Amazonas

“Tudo começou quando me pediram para assinar um atestado de óbito sem que eu pudesse ver e atestar a morte, o que é ilegal, e eu me recusei. Enfermeiras alteraram minhas receitas sem a minha autorização. Adulteraram até a minha folha de ponto”, afirma a Dra. Maria Silva 

Manaquiri-AM: A médica Maria da Conceição Saraiva da Silva, Dra. Maria Silva, foi afastada das suas funções naquele município por não seguir o protocolo absurdo determinado pela irmã do prefeito, Jair Souto, e secretária de saúde, Maria Luíza Souto.

Afastamento Sem Motivo Legal

Em época de pandemia aonde mais precisamos de profissionais da saúde a prefeitura de Manaquiri se dar ao prazer de dispensar uma médica profissional e muito querida e que muitas vezes tirou dinheiro do bolso para ajudar seus pacientes.

Em um vídeo a servidora da Secretaria de Saúde se recusa a receber os documentos entregues pela Dra. Maria Silva. Querido povo de Manaquiri, aqui é a Dra. Maria Silva. Hoje infelizmente tive que me mudar da cidade, pois a situação atingiu um ponto insustentável.

Acredito que as pessoas que fizeram de tudo para que eu tomasse essa decisão devam estar felizes. Mas, pelo respeito que tenho ao povo dessa cidade, que merece uma satisfação, gostaria de relatar alguns dos muitos fatos vividos por mim durante a minha passagem por aqui.

Fui enviada ao município pelo programa Mais Médicos, do Governo Federal, em dezembro de 2018. Muito feliz de poder dar a minha contribuição para a saúde do povo do interior do meu Amazonas, cheguei na cidade de braços e coração abertos. Fui muito bem recebida pelo Januário Neto, secretário de Saúde na época e aproveito para agradecer de público a atenção com que ele me tratou na minha chegada.

Lotada na melhor UBS da cidade, fiz o que pude para colaborar com a melhoria do meu ambiente de trabalho e para conseguir fazer um atendimento digno às pessoas que nos procuravam.

Gosto do que faço e por isso faço com amor. Procuro fazer um atendimento humanizado, ajudar a resolver mesmo o problema de saúde dos pacientes, receitando o remédio adequado, muitas vezes tirando dinheiro do meu próprio bolso ao perceber que a pessoa não teria como comprar e que a prefeitura não ia ter para oferecer, prescrevendo para cada paciente os exames necessários, enfim, exercendo uma medicina comprometida e responsável.

Acontece que a partir de um certo momento começaram a acontecer situações, até então aparentemente provocadas pela atual secretária de Saúde e irmã do prefeito, que demonstravam que a minha forma de trabalhar com ética e dentro da legalidade e o carinho com que a população me tratava – muitos queriam ser atendidos por mim- começaram a incomodar.

Tudo começou quando me pediram para assinar um atestado de óbito sem que eu pudesse ver e atestar a morte, o que é ilegal, e eu me recusei. Desse momento em diante teve início uma série de perseguições e boicotes.

Fui mandada para a menor UBS da cidade. Mas, para surpresa de todos, as pessoas passaram a ir lá no bairro atrás de mim para serem atendidas. Serei sempre imensamente grata e feliz por essa demonstração de reconhecimento da população. A opinião de vocês é a que realmente importa para mim.

Às vezes que tive que ir fazer atendimento nas comunidades ribeirinhas me mandaram em botes sem o mínimo de condições, sem colete salva vidas, correndo perigo, sem toldo e no sol quente.

Inúmeras vezes enfermeiras alteraram minhas receitas sem a minha autorização, trocando os remédios receitados, o que é ilegal e inaceitável. Registrei tudo em uma ATA no cartório da cidade, com testemunhas. Aliás, muitas vezes flagrei enfermeiras prescrevendo, receitando como se fossem médicos, o que também é ilegal.

Adulteraram até a minha folha de ponto, um documento federal, na tentativa de me prejudicar junto ao Ministério da Saúde e ao Mais Médicos, dentre outras situações absurdas e constrangedoras.

Estive nas últimas semanas em quarentena, obedecendo o que determinava um Atestado Médico que recomendava isolamento, por conta do meu filho que mora comigo ter ficado doente com suspeita de contaminação por COVID-19 e eu ter tido contato direto com ele. Os atestados foram enviados imediatamente tanto para a Secretaria de Saúde quanto para o Mais Médicos.

Ao retornar para Manaquiri nesta segunda-feira, 12 de maio, fui surpreendida por um comunicado da secretária de Saúde me dizendo que eu estava afastada do trabalho em razão de ausência não justificada. Já encaminhei para o Mais Médicos os comprovantes da entrega dos atestados para a sra. Maria Luíza Souto, secretária de Saúde, tão logo soube que deveria me isolar.

Além disso, aconteceram mais muitas outras situações que não vale nem a pena serem relatadas, e todas elas me forçaram a deixar Manaquiri na manhã desta quinta-feira, dia 14 de maio de 2020. Estou também aguardando uma definição do Ministério da Saúde para saber para qual município serei enviada.

Por fim, quero dizer ao povo desse município que aprendi a amar sobre a minha gratidão por cada gesto de carinho, cada sorriso, cada olhar que carregarei comigo em meu coração para sempre. Se cuidem.
Já estou com saudades de todos. Bem, de quase todos

Até um dia, Manaquiri.
MINHA VIDA PELA AMAZÔNIA! SELVA!!!

Dra. Maria Silva.
Médica

 Fonteportalrnnoticia

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