OPINIÃO: O verdadeiro poder feminino

“Ser poderoso é como ser uma dama. Se você tem de dizer às pessoas que você é, você não é.” (Margaret Tatcher)

Muito se fala sobre o empoderamento feminino. Essa expressão me incomoda profundamente. Quando usamos a palavra empoderamento, implicitamente estamos passando a mensagem de que estamos dando poder a quem não tem e as mulheres têm um poder inerente em sua essência.

O movimento feminista atribui as conquistas das mulheres à sua luta. Dizem que a conquista do mercado de trabalho, do direito ao voto, do direito ao estudo, decorreu de uma luta desse movimento.

Quando ouvimos todas essas coisas, fica difícil discordar de algo que parece ser tão nobre. Afinal, quem em sã consciência poderia achar ruim que as mulheres trabalhem, estudem ou votem? Porém, para podermos avaliar as situações de modo correto, precisamos ver todas elas dentro de seu contexto.

A entrada no mercado de trabalho tem muito mais a ver com avanços tecnológicos e com períodos de guerra do que com o movimento feminista

No século XXI, trabalhar pode significar realização pessoal, mas nem sempre foi assim. Hoje podemos pegar nosso carro, ir para um escritório confortável, com vista panorâmica da cidade, sentar em uma mesa com um computador e ainda contar com ambiente climatizado. E antes da Revolução Industrial, quando não havia tecnologia, como era o trabalho?

Trabalhar significava (e hoje ainda significa para muitas pessoas) uma necessidade, pois era essencialmente braçal. Ninguém carrega pedras, ara terras, cava buracos, para realizar-se pessoalmente. Dentro deste contexto, as mulheres não trabalhavam porque não precisavam e isso é um privilégio e não uma opressão.

Não havia leis proibindo mulheres de trabalhar. Basta lembrar de que mulheres pobres e escravas sempre trabalharam. E mesmo não trabalhando fora de casa, as mulheres sempre foram consumidoras, as melhores consumidoras, diga-se de passagem. O que é melhor: trabalhar ou lograr seus frutos?

A entrada no mercado de trabalho tem muito mais a ver com avanços tecnológicos e com períodos de guerra do que com o movimento feminista.

Os avanços tecnológicos tornaram o trabalho muito mais intelectual do que braçal e hoje podemos até mesmo trabalhar sem sair de casa. E a guerra obrigou as mulheres a saírem de casa para trabalhar enquanto os homens estavam no front para defende-las.

Um ótimo exemplo dessa realidade é Rosie, a rebitadora, a famosa mulher que acabou virando ícone do movimento feminista. O famoso cartaz foi idealizado para ser uma propaganda de guerra dos Estados Unidos. Criada por J. Howard Miller para a fábrica Westinghouse Electric Corporation, com o objetivo de incentivar as mulheres americanas trabalhadoras durante a Segunda Guerra Mundial. O que poucas pessoas sabem é que tão logo a guerra terminou, Rosie voltou para sua casa para cumprir o papel de rainha do lar. RAINHA!

omo deputada federal, obviamente acredito que as mulheres podem e devem participar da política. Não há nada de errado com isso. Sabemos que, antigamente, as mulheres não tinham direito ao voto, mas esse direito não era universal e também estava atrelado a certos deveres. Na Grécia, berço da democracia ocidental, não eram somente as mulheres que não podiam votar. Também não votavam escravos, estrangeiros e pessoas de baixa renda.

O que poucas pessoas sabem é que tão logo a guerra terminou, Rosie voltou para sua casa para cumprir o papel de rainha do lar

Para ter direito ao voto, além de cumprir determinados requisitos econômicos que variavam de acordo com o país, os homens tinham o dever de servir ao Exército. Ou seja, o voto estava intimamente ligado a condição de entregar sua vida no front caso fosse necessário. Nada mais justo do que ter direito a escolher o representante que iria decidir sobre as questões bélicas. E se houve um movimento sufragista por um lado, de outro também houve um movimento de mulheres anti-sufragistas.

“As mulheres anti-sufragistas compunham uma liga com mais de 42 mil membros e eram tão numerosas quanto as mulheres favoráveis ao voto, chegando a ser maioria em algumas localidades.” (Campagnolo, 2019)

Quando as mulheres conquistaram o direito ao voto sem ter a obrigação de alistarem-se no exército, estamos falando de privilégios e não de direitos iguais e os homens aceitam isso de bom grado. Isso comprova que os homens não odeiam as mulheres, muito pelo contrário, eles nos amam! É interessante também analisar as palavras de Celina Guimarães, a primeira mulher a votar na América Latina.

“Eu não fiz nada! Tudo foi obra de meu marido, que empolgou-se na campanha de participação da mulher na política brasileira e, para ser coerente, começou com a dele, levando meu nome de roldão. Jamais pude pensar que, assinando aquela inscrição eleitoral, o meu nome entraria para a história. E aí estão os livros e os jornais exaltando a minha atitude. O livro de João Batista Cascudo Rodrigues – A mulher brasileira: direitos políticos e civis – colocou-me nas alturas. Até o cartório de Mossoró, onde me alistei, botou uma placa rememorando o acontecimento. Sou grata a tudo isso que devo exclusivamente ao meu saudoso marido.” (p.94)

Muitas mulheres acabam caindo em falácias do movimento feminista por desconhecerem certos pontos importantes com relação à suas pautas. Dizem que a mulher pode ser o que ela quiser, mas hoje parece um crime a mulheres o fato de desejar ser dona de casa, construir uma família e ser a RAINHA do lar.

“Um parasita a sugar a vida de outro organismo […] a dona de casa não caminha para a criação de algo durável […]. O trabalho que a mulher faz dentro de casa não é diretamente útil para a sociedade; não produz nada. A dona de casa é subordinada, secundária, parasítica. É para o seu bem que a situação tem de ser alterada de modo a proibir o casamento como uma “carreira” para a mulher”.

“A sociedade deve ser totalmente diferente. As mulheres não devem ter essa escolha [de ficar em casa com os filhos], precisamente porque se existe uma escolha, muitas mulheres vão fazer isso […] [proibir essa alternativa doméstica] é uma maneira de forçar as mulheres em uma determinada direção.” (Beauvoir, 2016)

O que aconteceu, na verdade, foi que as mulheres não ganharam o direito de trabalhar e sim perderam o direito de ficar em casa cuidando de seus filhos. Qual tarefa neste mundo pode ser mais nobre do que formar um ser humano desde o início? Isso é um privilégio exclusivamente feminino e sempre será. Somente as mulheres têm útero e nenhuma ideologia será capaz de mudar esta realidade.

Como deputada federal, eu acredito que as mulheres devem sim participar da política, mas não podemos obrigá-las a fazer isso. Nem todas as mulheres se interessam por esses assuntos e não há nada errado com isso. Devemos celebrar essa diversidade.

Portanto, quero passar a mensagem de que independente do que algumas ideologias pregam por aí, as mulheres sempre foram muito poderosas sim e não há necessidade de “empoderá-las”.

Que cada vez mais as mulheres tenham liberdade para exercer seus talentos, embelezar o mundo e encantar a todos de um jeito que somente nós, mulheres, conseguimos fazer.

REFERÊNCIAS

BEAUVOIR, Simone de. O segundo Sexo: fatos e mitos. 3ªed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.

CAMPAGNOLO, Ana Caroline. Feminismo: perversão e subversão. 1ª ed. Campinas: Vide editorial, 2019

Bia Kicis foi procuradora do Distrito Federal durante 24 anos, ativista e atualmente é deputada federal pelo PSL/DF.

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