Por que a reabertura de escolas é um desafio nesta pandemia?

O ano escolar de 2020 praticamente não existirá para milhões de estudantes no mundo todo. A pandemia da covid-19 começou a avançar em meados de fevereiro e o fechamento das escolas foi algo inevitável.

Pegos de surpresa, alunos, pais, professores, diretores de escola e governos precisaram de planos emergenciais para garantir a continuidade do aprendizado de maneira remota. Algo inacessível para parte dos estudantes, principalmente de regiões mais pobres.

O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, alertou nesta semana para uma “catástrofe geracional” provocada pelo fechamento das escolas em meio à pandemia. Ele falou em 1 bilhão de estudantes afetados em 160 países e pediu que as aulas sejam “prioridade” dos governos na retomada de atividades.

Mas por que cidades no mundo todo reabrem bares, academias, restaurantes, comércio e as escolas continuam fechadas?

A médica infectologista Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, observa que não há evidências suficientes sobre o comportamento do coronavírus com um aumento da circulação de crianças na sociedade. Na gripe, por exemplo, elas têm um papel importante na disseminação do vírus.

“Apesar de a gente saber que as crianças transmitem menos e adoecem menos, a gente não sabe exatamente o papel das crianças nessa dinâmica de transmissão viral, porque todas elas até então estavam em casa. Agora que nós vamos ver. Os países que estão retornando estão mostrando para nós que parece que não tem problema. Mas esses países conseguiram fazer os protocolos básicos.”

É o que tem feito a Austrália. Um estudo publicado nesta semana na revista científica The Lancet com instituições de ensino infantil no estado de Nova Gales do Sul concluiu que “as taxas de transmissão do SARS-CoV-2 foram baixas no ambiente educacional” da região durante a primeira onda da pandemia.

Mas o governo local fez o que é recomendado para conter a pandemia e tentar ter uma rotina normal: responder rapidamente e da maneira certa.

Teste, rastreamento e isolamento

Essa resposta rápida significa, segundo um estudo britânico publicado na mesma revista, testar o maior número possível das pessoas sintomáticas (entre 59% e 87%), tanto em ambientes escolares como fora deles.

A conclusão foi que “para evitar uma segunda onda de covid-19, o relaxamento do distanciamento físico no Reino Unido, incluindo a reabertura de escolas, deve ser acompanhado de testes em larga escala em toda a população de indivíduos sintomáticos e rastreamento eficaz de seus contatos, seguido pelo isolamento dos indivíduos diagnosticados”.

Reino Unido e Austrália estão entre os 25 países do mundo que mais fazem teste de covid-19 por milhão de habitantes — 249 mil e 177 mil, respectivamente.

No Brasil, que ocupa a posição de número 64, a realidade é bem diferente.

O país testou até agora cerca de 62 mil pessoas por milhão de habitantes. Entretanto, o cenário muda de acordo com o estado.

Diante de incertezas, cidades da região metropolitana de São Paulo já começam a definir o retorno às aulas só em 2021. Uma decisão do governo estadual sobre o calendário escolar está prevista ser anunciada nesta sexta-feira (5).

r7

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