9 motivos para desconfiar das pesquisas eleitorais: Levantamentos têm histórico de equívocos no Brasil

Sábado, 6 de outubro de 2018, véspera do primeiro turno das eleições gerais. Em extensa reportagem, o site da Folha de S. Paulo destacou: “Dilma lidera para o Senado em MG”. No dia seguinte, a manchete, baseada numa pesquisa do Datafolha, não só se mostrou equivocada, como ficou bem distante da realidade. Fora do poder desde que sofreu impeachment em agosto de 2016, a ex-presidente amargou a quarta colocação nas urnas.

Dar como certa a vitória de Dilma para uma vaga no Senado não se configurou como único erro cometido por institutos de pesquisa. Outros equívocos foram registrados em relação ao pleito de dois anos atrás. Uma semana antes da votação do primeiro turno, por exemplo, o portal UOL fez questão de cravar no título: “Bolsonaro perde em todos os cenários de 2º turno”. O responsável pela previsão foi o mesmo Datafolha — que, aliás, é mantido pelo Grupo Folha, conglomerado de mídia que detém marcas como Folha de S. Paulo e o próprio UOL.

Detalhe: Folha e UOL não publicaram nenhum “erramos” pelas pesquisas que não se confirmaram

Os erros não ficam restritos ao Datafolha. Outros institutos apresentam histórico de falhas nas pesquisa e, mesmo assim, esse tipo de material continua ganhando destaque na mídia. Em 1º de outubro de 2018, o Jornal Nacional, da TV Globo, destinou quase oito minutos de sua edição para divulgar um conteúdo do Ibope que, posteriormente, não representou a realidade. Segundo a pesquisa, Fernando Haddad (PT) empataria com Jair Bolsonaro (então no PSL) — cada um teria 42% dos votos no segundo turno.

Pesquisas que não confirmaram o desejo do eleitorado nas urnas não são exclusividade de 2018. Nesse sentido, Oeste lista nove erros apresentados por institutos. Além do pleito de dois anos atrás, há casos registrados em 2006, 2010, 2014 e 2016. Entre eles, os dados que davam como certa a eleição de um pagodeiro para representar o Estado de São Paulo no Senado.

2018

  • Dilma no Senado 

Para tristeza do Partido dos Trabalhadores, Dilma Rousseff não foi eleita senadora. Candidata por Minas Gerais, após o Supremo Tribunal Federal (STF) manter seus direitos políticos apesar do impeachment, ela despontava como líder em pesquisas de intenção de voto. Foi o caso do já mencionado Datafolha, divulgado há menos de 24 horas dos mineiros irem às urnas e… deixarem a ex-presidente na indigna quarta colocação. Ela ficou atrás dos eleitos Rodrigo Pacheco (DEM), Carlos Viana (PHS) e também de Dinis Pinheiro (Solidariedade).

→ Dilma eleita com 23% (Datafolha, 6 de outubro)

→ Dilma rejeitada com 15% (realidade dos fatos, 7 de outubro)

Bolsonaro derrotado por todos

O que Ciro Gomes, Fernando Haddad e Geraldo Alckmin tinham em comum a uma semana da realização do primeiro turno das eleições de 2018? De acordo com o Datafolha, qualquer um dos três venceria Bolsonaro no derradeiro segundo turno. Detalhe para o fato de a pesquisa, como de costume encomendada por TV Globo e Folha de S. Paulo, ter colocado o candidato tucano com dois dígitos. Na hora “H”, no entanto, o representante do PSDB na disputa teve menos de 5% dos votos válidos.

Presidente do Senado perde o trono e o mandato

De presidente do Senado a político sem mandato. Assim pode ser resumido o processo eleitoral de Eunício Oliveira em 2018. No comando da Casa legislativa desde fevereiro de 2017, ele chegou ao pleito com status de cacique do Congresso Nacional e do PMDB (hoje chamado MDB). Essa condição, contudo, não conquistou o eleitorado cearense. O então senador não foi reeleito, apesar de o Ibope divulgado um dia antes da eleição colocá-lo como ocupante da segunda vaga no Senado. Derrotado, anunciou que deixaria a vida pública.

2016

  • Disputa pela prefeitura de São Paulo

Uma sequência de erros marcou o levantamento apresentado pelo Ibope em 1º de outubro de 2016 sobre a corrida pela prefeitura da maior cidade do país. Primeiramente, a pesquisa apontou que haveria segundo turno entre João Doria (PSDB) e Celso Russomanno (PRB), com 35% e 23% dos votos, respectivamente. Balela. No dia seguinte, o tucano recebeu 53% dos votos válidos e foi eleito prefeito da capital paulista. No resultado que realmente importa, o das urnas, Russomanno ficou somente em terceiro lugar, atrás de Fernando Haddad (PT).

2014

  • Aécio Neves fora do 2º turno

Impulsionada pela comoção gerada por causa do acidente aéreo que vitimou Eduardo Campos, Marina Silva assumiu a cabeça de chapa do PSB e, dessa forma, estava predestinada a disputar o segundo turno da eleição presidencial de 2014 contra a petista Dilma Rousseff. Ao menos essa foi a tese “vendida” por institutos de pesquisa até poucos dias antes da votação. Considerado fora do páreo até o início da semana que antecedeu o primeiro turno, Aécio Neves (PSDB) teve 12 milhões de votos a mais que a então socialista.

  • Aécio Neves eleito presidente da República

Pesquisas conseguiram errar duplamente os números atribuídos a Aécio Neves em 2014. De “zebra” na primeira parte do pleito, o tucano mineiro chegou, posteriormente, a ser apontado como o novo presidente da República. O Paraná Pesquisas divulgou que o candidato do PSDB teria 8% a mais de votos que Dilma: 54% a 46%. Mais um dado que não se confirmou na vida real. Com 48% dos votos válidos, ele acabou derrotado e fez com que o PT conquistasse a presidência da República pela quarta vez consecutiva.

aécio neves x dilma

2010

  • Um pagodeiro no Senado

O pagodeiro Netinho de Paula era nome certo para representar o Estado de São Paulo no Senado Federal a partir de fevereiro de 2011. Ao menos foi o que garantiu o Datafolha três dias antes da eleição de 2010. De acordo com a pesquisa divulgada em 30 de setembro, o cantor e integrante do PCdoB alcançaria 39% e seria eleito ao lado da então petista Marta Suplicy, com 37%. Entretanto, o ritmo das urnas foi outro. Candidato pelo PSDB, Aloysio Nunes Ferreira não só foi eleito, como — naquele momento — se tornou o político a receber mais votos para o Senado na história do Brasil.

Foto: Reprodução/Record TV

  • Cadê o 2º turno em Minas Gerais?

Em 2010, o Estado de São Paulo não foi o único a ser agraciado com pesquisas que, semanas depois, passaram longe da confirmação junto ao eleitorado. Na disputa pelo governo de Minas Gerais, o portal G1 divulgou, em 17 de setembro, levantamento do Datafolha que considerava acirrada a briga entre Antonio Anastasia (PSDB) e Hélio Costa (PMDB). O cenário seria 40% x 37%. Ou seja: a dupla disputaria o segundo turno que… não ocorreu. Em 3 de outubro, Anastasia recebeu 63% dos votos válidos e foi reeleito em primeiro turno.

Foto: Reprodução

2006

  • Da provável reeleição ao choro da derrota

Governador do Rio Grande do Sul na disputa pela reeleição em 2006, o peemedebista Germano Rigotto deveria se sentir confortável e esperar o adversário para o segundo turno. No levantamento realizado pelo Ibope na semana que antecedeu o primeiro turno, ele aparecia isolado na liderança, com 29% das intenções de voto. Yeda Crusius (PSDB) e Olívio Dutra (PT) surgiam empatados, com 22% cada. Com a ida do povo gaúcho às urnas, a configuração foi totalmente outra. A tucana, que acabaria eleita, foi a mais votada e rivalizou com o petista no segundo turno. Derrotado, coube a Rigotto chorar diante das câmeras.https://www.youtube.com/embed/bly8SQgGFMo?feature=oembed

Erros internacionais

“Trump surpreende e é eleito presidente dos Estados Unidos”. O título escolhido por veículos de comunicação como IstoÉO Estado de S. Paulo e R7 em novembro de 2016 serviu para mostrar que as pesquisas eleitorais falham não apenas no Brasil. Afinal, levantamentos realizados por institutos norte-americanos apontavam que a democrata Hillary Clinton faria história e se tornaria a primeira mulher a comandar a principal potência econômica do mundo. Ledo engano. O republicano Trump venceu a disputa e hoje faz campanha pela reeleição.

Erros também ocorreram do outro lado do Oceano Atlântico. Algumas pesquisas divulgadas na semana do referendo sobre a permanência ou não do Reino Unido como membro da União Europeia deram derrota do Brexit. Foram os casos, por exemplo, de estudos realizados pelos institutos BMG e ComRes. Eles apostavam que a votação terminaria sem mudanças nas relações entre nações europeias. Afinal, a expectativa era que o povo votasse para que a porção formada por Escócia, Inglaterra, Irlanda do Norte e País de Gales se mantivesse no bloco. No entanto, a maioria dos britânicos resolveu deixar a Europa nem tão unida assim.

Revista Oeste — os fatos como ocorrem

“Nossos textos vão refletir os fatos como eles ocorreram — tanto quanto nos for possível, sinceramente, fazer o retrato do que aconteceu, e não do que gostaríamos que acontecesse”. É o que afirma um trecho do pacto da Revista Oeste, assinado pelo colunista e conselheiro editorial J. R. Guzzo. Nesse sentido, por acreditar que pesquisas eleitorais têm deixado de representar os fatos como eles ocorrem, Oeste adota a política editorial de não divulgar levantamentos sobre intenções de voto.

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