Gildo Insfrán, o Herodes argentino que persegue grávidas para roubar seus bebês na pandemia

As mulheres aborígenes da região de Formosa, na Argentina, estão lidando com um problema bem maior do que a Covid-19. Elas fogem para regiões montanhosas e de difícil acesso, separadas de seus maridos e filhos, para evitar que as rondas policiais as submetam a cesáreas forçadas e levem seus bebês recém-nascidos para quarentenas de 14 dias longe de suas mães. A situação, que é difícil de acreditar, faz parte das medidas sanitárias do implacável peronista Gildo Insfrán, governador da província de Formosa que está no poder há 25 anos.

As grávidas precisam deixar suas casas e famílias para poder levar a gravidez adiante. O isolamento que vivem os indígenas, fruto do descaso incentivado por antropólogos, facilita que forças policiais cometam abusos contra essas comunidades.

omo tropas de Herodes, a polícia faz rondas em busca de grávidas prestes a dar à luz. Fazem uma cesária e levam o bebê em ambulância neonatal da Capital, isolado e longe de sua mãe. Uma reportagem do canal de TV argentino Telenoche, fez a denúncia que vem sendo repercutida por outros jornais do país.

Aos 22 anos, Emiliana teve seu filho em casa, mas foi separado dela imediatamente após o nascimento, relata a reportagem do Clarín. “À tarde, vieram me ver e disseram que a bebê devia ser levada a Formosa. Injetaram algo em mim e quando acordei estava sozinha em minha casa”, conta. Em alguns casos, os maridos nem mesmo sabem onde estão suas esposas grávidas e como vão ter o bebê. Cerca de 86 mulheres vivem em acampamentos improvisados na mata.

Como algumas mulheres indígenas tampouco falam o espanhol, não compreendem muito bem o que está ocorrendo e policiais acabam levando seus bebês à força, aos empurrões, relatou uma jornalista do Telenoche. Em quarentena desde o ano passado, as comunidades indígenas recebem cestas básicas do governo, mas são ameaçadas de ter o auxílio cortado quem relatar à imprensa o que está ocorrendo, contou a jornalista.

Esta situação é um exemplo dos abusos da pandemia. Assim como no Brasil, governadores locais se tornaram implacáveis contra a população. Argentinos denunciam o mesmo descaso com as verbas destinadas à saúde, preferindo as medidas draconianas e abusivas que vitimam os mais vulneráveis. Diferente do Brasil, onde os jornais dão apoio e pressionam governadores por mais opressão, a imprensa argentina já vem denunciando o que um colunista do jornal La Nación chamou de “vírus da tirania”, cujo contágio é atribuído especialmente a Insfrán.

Nas últimas semanas, a polícia reprimiu violentamente protestos populares contra o retorno à fase sanitária mais grave, o que acarretou em restrições maiores. Os manifestantes pedem a reabertura do comércio, em restrição desde o ano passado, e a renúncia do governador.

Em uma “quarentena eterna”, como dizem, os argentinos vivem desde o início da pandemia tendo mais medo das forças de segurança do que da doença. Mesmo com a quarentena, porém, a doença matou mais do que no Brasil. Os argentinos consideram este o “pior governo da história” e já foram feitas denúncias internacionais por violações a direitos humanos.

Na semana passada, o jornal Gazeta do Povo denunciou, com base na denúncia de ONGs ligadas à questões indígenas, que crianças indígenas vinham sendo separadas de suas mães, deixadas com parentes ou vizinhos, ou desmamadas à força. O jornal disse ter entrado em contato com órgãos oficiais, mas não obteve resposta. Graças à coragem dos jornalistas argentinos do Telenoche, porém, ficamos sabendo mais detalhes do horror dramático em que vivem essas mulheres vítimas desta verdadeira emergência democrática e humanitária que se traveste de “emergência sanitária”.

Formosa vangloria-se de ter o menor índice de mortes por Covid-19 do país e a maior taxa de vacinados contra o novo coronavírus. Mas a propaganda do governador peronista esconde as graves violações dos direitos humanos e à liberdade de imprensa, que ocorrem sob a justificativa de uma política sanitária draconiana.

De acordo com relatos recebidos pela Anistia Internacional da Argentina, pessoas sem o vírus eram colocadas em isolamento preventivo junto com contaminados, expondo-as ao contágio.

Não bastasse o encarceramento, pessoas relataram a organizações de direitos humanos que foram forçadas a ficar em isolamento por muito mais tempo do que os 14 dias recomendados pela Organização Mundial da Saúde, muitas vezes sem sequer saber se estão ou não com Covid. “Muitas pessoas estariam sendo forçadas a ficar lá [nos centros de isolamento], sem dar o seu consentimento. Alguns sofreram crises, angústia e depressão e não foram atendidos adequadamente”, diz um informe da Anistia Internacional, publicado no fim de janeiro. Em um caso que foi noticiado pela imprensa do país, uma mulher perdeu o filho enquanto estava em quarentena em um desses locais, informou uma matéria da Gazeta do Povo.

Infelizmente, o direito internacional ainda permite quarentenas obrigatórias, embora órgãos internacionais vejam como abusos casos como o de Insfrán.

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