CPI da Covid: ‘Nunca tivemos uma atuação negacionista da ciência’, diz ex-braço direito de Pazuello

O ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, disse à CPI da Covid que o governo não comprou cloroquina para tratamento de covid-19 em 2020 e negou que tenha havido interrupção nas negociações para compra de vacina. Segundo Franco, a cloroquina foi adquirida para tratamento de malária.

“Identificamos que, para atender ao programa antimalária, em 30 de abril em 2020, foi assinado um termo com a Fiocruz no valor de R$ 50 mil visando a aquisição desse fármaco para o programa antimalária”, disse Franco à CPI.

Bolsonaro tem defendido o uso da cloroquina contra covid-19 desde o início da pandemia como prevenção ou tratamento precoce, apesar de não haver evidências científicas da sua eficácia. No entanto, Franco disse que o termo “kit de tratamento precoce” não era usado no ministério.

Apesar da negativa do secretário, mais de 3 milhões de de comprimidos de cloroquina foram desviados pelo ministério do tratamento de malária para uso contra cloroquina, segundo reportagem da Folha de S. Paulo

Franco negou que esse contingente tenha sido usado no tratamento de covid-19 e informou que, pelos cálculos do governo, são usados por mês no Brasil 3,4 milhões de comprimidos de cloroquina por pacientes em tratamento contra lúpus, malária e artrite reumatoide.

Coronel da reserva, Franco foi o número dois do ex-ministro Eduardo Pazuello entre junho de 2020 e março de 2021. Atualmente é assessor especial da Casa Civil da Presidência da República.

O ex-secretário foi criticado pelo senador Otto Alencar (PSD-BA) por ter iniciado seu depoimento dizendo que o Brasil seria o quarto em número de doses aplicadas — o que é verdade em termos absolutos, mas não relativamente: é o 78º em doses aplicadas a cada 100 mil habitantes, entre 190 nações.

Após corrigir Franco, o senador disse que o secretário errou na compra de vacinas, na gestão de insumos e nas medidas de isolamento social. “Faltou compromisso com a vida”, disse Alencar.

O ex-secretário rebateu: “Nunca tivemos uma atuação negacionista da ciência ou da doença”.

CoronaVac

Franco afirmou que o ministério não fechou contrato com o Instituto Butantan para aquisição de vacinas em 2020 porque o estudo da fase 3 da vacina não tinha sido concluído e por questões legais, que foram resolvidas em janeiro de 2020.

O ministério, no entanto, havia fechado contrato de encomenda tecnológica com a Fiocruz e a farmacêutica AstraZeneca antes da fase 3 e antes da aprovação Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Sobre essa diferença de tratamento, o ex-secretário afirmou que a vacina da AstraZeneca “era uma das mais avançadas na fase 3 de estudos clínicos e era uma tecnologia inovadora” e que, por isso, o governo poderia fazer um contrato de encomenda tecnológica, assumido o risco desse tipo de transação.

“Não era o caso (da vacina) do Butantan, por ser uma tecnologia que o Butantan já dominava”, disse Franco. “Essa aquisição foi feita da forma como com os demais imunizantes que o Butantan fornecia, conforme a legislação, um processo de licitação.”

Franco disse ainda que após a edição da medida provisória 1026, que tratava da compra de vacinas, em 6 de janeiro, a compra da CoronaVac foi efetivada.

Legenda da foto,Franco foi o funcionário do ministério que negociou também com a Pfizer durante as tratativas sobre compra de vacinas

Franco negou que tenha havido interrupção das tratativas com o Butantan em outubro de 2020, após Bolsonaro dizer publicamente que “mandou cancelar” compromisso de compra. Dimas Covas afirmou à CPI que as negociações estavam indo bem até a fala de Bolsonaro.

“A partir deste ponto, é notório que houve uma inflexão”, disse Covas. “No outro dia de manhã, quando ainda haveria conversas adicionais, essas conversas adicionais não aconteceram porque o presidente (Jair Bolsonaro) disse que não haveria continuação nesse processo.”

À CPI, Pazuello havia afirmado que as falas do presidente não interferiram nas tratativas. Essa versão foi contraposta por Covas. Ele disse que após a fala de Bolsonaro o compromisso do governo com o Butantan “ficou em suspenso”.

“De fato, eu nunca recebi um ofício dizendo que a intenção de compra não valia mais, mas na prática não houve avanço, as negociações foram interrompidas”, disse. “Enquanto o isso o governo fez diversas tentativas de compra de vacinas internacionais, e não da que estava sendo produzido em solo nacional.”

Élcio Franco disse que não entendeu as falas de Bolsonaro como uma ordem e contradisse Covas, dizendo que não houve interrupção das tratativas com o Butantan. Questionado se, então, o Butantan estava mentindo, Franco disse que acredita que foi “uma diferença de percepção”.

O ex-secretário negou ainda que o governo federal pudesse ter apoiado financeiramente o desenvolvimento desta vacina, porque isso estava sendo realizado na China, e refutou que a vacinação co a CoronaVac poderia ter começado em dezembro, como Covas afirmou, porque essa vacina só obteve a autorização para uso emergencial pela Anvisa em 17 de janeiro.

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