OPINIÃO: Pense num absurdo, na Bahia tem precedente; por Carlos Alberto professor e radialista- O QUE É QUE A BAHIA TEM?

Antes de qualquer coisa, é preciso dizer que a frase que intitula o que ora escrevo tem autoria definida, e muito bem definida. Seu titular é o ex-governador da Bahia, Otávio Mangabeira, que governou este estado de 1947 a 1951. Mangabeira, segundo informações colhidas (sic), externava tal frase sempre que sabia de algo que considerava absurdo e que acontecia com frequência Brasil a fora, especialmente na Bahia.

Feito o devido registro, vale destacar que a escrita deste artigo atende uma “provocação” feita na manhã do domingo, 18, pelo querido amigo de Cruz das Almas, professor Pedro Torres. Explico. Uma das manchetes do site 247 de domingo dizia “Desejos do Brasil pós-pandemia: ricos querem lazer e pobres querem comida”. A partir da conversa que tivemos surgiu a ideia cujo título inicial poderia ser “Malvadeza ressuscitou!” Mas, ao final, a opção ficou com essa frase do ex-governador. Sigamos.

Quem viveu na Bahia nos tempos em que o político Antônio Carlos Peixoto de Magalhães, mais conhecido como ACM, era vivo ou quem sempre se interessou por política, seja mais velho ou os mais moços, sabe que ACM colecionou muitos amigos e também muitos inimigos na política (ou fora dela, dizem), além de ter dito algumas frases e ganhado alguns apelidos conhecidos.

Um caso de amor com a Bahia: ACM, que faria hoje 89 anos, dedicou a vida à  defesa do estado - Jornal Correio

No estilo Maquiavel, a frase mais conhecida de ACM era “Aos amigos tudo, aos inimigos a lei”. Dizia também “O importante, na política, é dizer não”, ou “A primeira regra da boa briga é escolher o adversário certo” entre outras. Sobre os amigos e inimigos do “velho ACM” prefiro não citar nomes para não incorrer em erros ou deixar o escrito muito extenso, até porque, na política, esses conceitos são discutíveis. Quanto aos apelidos, segundo matéria publicada no site Folha de Londrina, com adaptações, vai desde “Toninho Ternura” (para os amigos), “Toninho Malvadeza” (para os inimigos), “Imperador da Bahia”, “Truculento”, “Autoritário” chegando a ser apelidado de “Dono do mundo”. 

Seja como for, “Toninho Malvadeza” sempre foi o mais forte dos apelidos entre amigos e inimigos, sendo seu conhecimento, nacional e local, acrescido da expressão dita por Paulo Junqueira Duarte em depreciação ao seu adversário político e ex-governador de São Paulo, Ademar de Barros, quando disse “Rouba, mas faz”. Voltemos ao título.

Recentemente a Bahia de Otávio Mangabeira passou a ser administrada pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Inicialmente, por duas vezes, 2007 a 2014, o estado foi governado por Jaques Wagner (PT) que fez, em 2014, seu sucessor, Rui Costa, que teve seu primeiro mandato entre 2015 e 2018, sendo reeleito com mandato que expira em 31 de dezembro de 2022. 

A presidente Dilma Rousseff, durante reunião ministerial no Palácio do  Planalto - Fotos Publicas

Segundo dizem, o povo da Bahia clamava por mudanças polícias no estado administrado por tanto tempo por ACM e/ou seu grupo político. Dizem, também, que muito do que se esperou de mudanças, para melhor, em especial para a classe trabalhadora, não veio, pois o PT traiu esta classe unindo-se à burguesia, aos ricos para chegar ao poder. 

Segundo Roque Pinto, professor Titular de Antropologia na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), em matéria publicada em 2019 no site jornalistaslivres.com.br Rui Costa, o atual governador da Bahia eleito pelo PT, à semelhança do seu antecessor, Jaques Wagner, também do PT, “tem apreço por políticas conservadoras, autoritárias, privatizantes, e parece ter uma grande repulsa contra o servidor público baiano e a coisa pública de uma forma geral”. 

Pinto diz ainda que “O governador Rui Costa faz uso extensivo de dinheiro público para se autopromover, usando largamente a propaganda oficial para vender a ideia de ‘bom gestor’, mas o custo social disto, que naturalmente não aparece nas peças publicitárias, é a extinção de cargos públicos, o arrocho salarial, as privatizações e terceirizações, o corte em investimentos públicos em saúde, moradia, segurança e educação. É o serviço precário, é a falta de material, a falta de motivação e o adoecimento do trabalhador”. 

Edital da ponte Salvador-Itaparica deve sair até fim de 2018, informa  governador Rui Costa em reunião com chineses | Jornal Grande Bahia (JGB)

Como diz o professor Pedro Torres, “É velho método do castigo ao servidor público, especialmente acrescido de corte de salários, retaliações e até o severo castigo para crianças e adolescentes sem merendas, se desobedecerem”. O sem merenda, neste caso, refere-se ao anuncio recente do governo da Bahia que promete cortar programa de auxílio a estudantes do estado que não comparecer às aulas semipresenciais, com previsão de início para o próximo dia 26 de julho. 

De acordo com Roque Pinto, o modus operandi de fazer política dos governos do PT na Bahia “É o conjunto dos ataques aos direitos dos servidores públicos, com o desmonte da previdência pública, o aumento da alíquota de contribuição previdenciária, sucateamento do Planserv (Plano de Saúde dos Servidores públicos do Estado da Bahia) e uma política perversa de arrocho e acúmulo de perdas salariais”.

Segundo a Associação dos Docentes da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (ADUSB), na Bahia, em 2016, a Associação apontou 10 motivos para repudiar o governo Rui Costa (PT) e seus aliados. Dizia a matéria: 34 mil servidores públicos receberiam abaixo do salário mínimo; com a criação do PREVBAHIA, a aposentadoria integral foi extinta; houve Alteração das regras para concessão de pensão por morte; O PLASERV foi modificado, onerando ainda mais a renda familiar; O adicional de insalubridade dos funcionários públicos foi cortado ilegalmente; Vários direitos trabalhistas, conquistados historicamente, foram extintos; Criação de Programa de Permanência Estudantil nas universidades estaduais que discrimina estudantes em situação de vulnerabilidade econômica; Deputados são cooptados para defender os interesses do governo na Assembleia Legislativa da Bahia; A violência policial é usada para reprimir manifestações contrárias ao governo; e, Movimentos sociais são criminalizados e governo manipula os fatos.

Como já estamos em julho de 2021, ou seja, cinco anos desde que a ADUSB fez esse registro, vale salientar que muita coisa precisa ser atualizada, inclusive, que neste mesmo período ou um pouco mais de tempo, os servidores públicos da Bahia não tiveram ao menos qualquer reposição inflacionária aos salários. Ou seja, é o velho chicote de outros tempos com nova roupagem, disfarçado de democracia, de modernização do estado, de tudo, menos de “cuidar de gente”, como diz o próprio governo em suas peças publicitárias.

Por fim, podem estar atualizando, modernizando tudo neste estado; podem até querer alguns justificar que a Bahia está pior que antes, outros dizerem que está melhor enfim. Fato é que, salvo melhor juízo, para o servidor público deste estado, parte da manchete do 247, adaptada, seria assim utilizada nestes tempos “servidores públicos da Bahia querem comida, e respeito”. Além do que alguns dos apelidos caem muito bem nestes tempos. E mais, seja nos tempos de Otávio, de ACM e seu grupo ou mesmo agora, a única coisa que está super atualizada é a frase de Mangabeira “Pense num absurdo, na Bahia tem precedente!” Não é mesmo professor Pedro Torres?

Foto de capa ex-governador da Bahia -Otávio Mangabeira

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