PCC: 101 anos de mentira e morte: Quem é Deus? O Povo é Deus, é o povo que faz a história e determina a história.

Quem é Deus? O Povo é Deus, é o povo que faz a história e determina a história.

A frase acima foi publicada no último domingo (18) por Yang Wanming, embaixador da China no Brasil, em seu perfil no Twitter. Imediatamente percebeu-se que era uma clara resposta ao presidente Jair Bolsonaro, o qual repetidamente tem declarado que “só Deus” o pode tirar da Presidência da República. Naquele mesmo dia — o Dia do Senhor, para os cristãos — Bolsonaro recebeu alta depois de uma hospitalização de quatro dias para tratar uma obstrução intestinal. Também no domingo o ex-chanceler Ernesto Araújo usou o Twitter para abordar o tema levantado por Yang. Escreveu o ex-ministro:

“Quis ut Deus?”
(Quem é como Deus?)
Essa é a tradução latina do nome hebraico 
מיכאל – Micael, o Arcanjo Miguel que enfrenta o demônio e sua arrogância.
Para os cristãos, Deus é Pai, Filho e Espírito Santo, a Trindade envolta em mistério, mas presente na nossa vida e nosso coração.

Ilustrando o comentário, uma imagem de São Miguel Arcanjo, que liderou os exércitos de Deus contra a rebelião luciferina. Em geral, o Arcanjo Miguel é retratado a sobrepujar o demônio com uma lança — e o demônio, como sói acontecer na Bíblia, é representado pela figura de um dragão.

Segundo Yang Wanming, a frase utilizada em sua postagem é de Mao Tse-tung, o ditador que governou a China entre 1949 e 1976, e que até hoje é cultuado como o grande líder do Partido Comunista Chinês (PCC). É bem possível que a citação faça parte de um dos bizarros poemas de Mao, que eram apresentados pelos comunistas como joias da literatura universal.

Mas o que um comunista quer dizer quando menciona a palavra povo? Ora, a expressão está incorporada ao nome oficial do país de Mao Tse-tung: República Popular da China. Como estamos falando da maior e mais longeva ditadura do planeta — lá se vão 72 anos de domínio comunista —, a palavra povo, no caso, não se refere ao conjunto da população, mas à instituição que o oprime. Quando um comunista chinês diz que “o povo é Deus”, ele está divinizando o Partido. E esse Partido transformado em Deus por Mao e seus discípulos — entre eles o atual ditador Xi Jinping — acaba de comemorar um século de existência.

Durante algum tempo, houve controvérsia sobre a data oficial de fundação do Partido Comunista Chinês. Apontou-se inicialmente como marco zero a abertura do 1º Congresso do PCC, ocorrida em 23 de julho de 1921, em Xangai. Segundo essa versão, o centenário do PCC seria comemorado hoje.

Apenas 13 pessoas compareceram a esse congresso inicial do PCC. Eram estudantes, professores e jornalistas — um deles, o obscuro Mao Tse-tung. Esses 13 pioneiros representavam um total de 57 comunistas, nenhum deles operário. Os mais proeminentes militantes marxistas da China — os professores Li Tao-chao e Chen Tu-hsiu — não puderam estar presentes. Havia dois emissários soviéticos: H. Maring e V. Nikolski (membros da Internacional Comunista). E a presidência dos trabalhos foi entregue a Chang Kuo-tao — que mais tarde se tornaria um dos grandes rivais de Mao na disputa pelo comando do Partido.

Segundo relatam Jan Holliday e Jung Chang, na magistral biografia “Mao — A História Desconhecida”, a participação do futuro Grande Timoneiro no Congresso foi apagada:

Mao falou pouco e causou pouco impacto. Em comparação com os delegados de cidades maiores, era um provinciano, vestido com a tradicional bata de algodão e sapatos de algodão preto, em vez do terno europeu, traje de muitos jovens progressistas. Ele não procurou impressionar e se contentou principalmente em escutar.”

Por que, então, a data oficial de fundação do PCC é comemorada em 1º de julho? O motivo é simples: quem determinou a data foi o todo-poderoso Mao Tse-tung, que quase trinta anos depois aparentemente não guardou (ou não quis guardar) memória dos acontecimentos em que teve papel secundário.

Existe, porém, algo mais surpreendente revelado pelo livro de Chang e Halliday: o Partido Comunista Chinês não foi fundado em julho de 1921, mas cerca de um ano antes. A ideia de criar um Partido Comunista Chinês nasceu nas reuniões da Internacional Comunista (Comintern), fundada em 1919 na Rússia soviética. Em janeiro de 1920, o Comintern enviou à China um emissário, o agente russo GrigoriVoitinski, que se estabeleceu em Xangai com o objetivo expresso de “construir um partido chinês”. Voitinski fez contato com o professor Chen Tu-hsiu, na época o mais importante intelectual marxista chinês, e propôs a ele a fundação do PCC, que aconteceu em agosto de 1920, com a presença de oito eminentes marxistas, nenhum dos quais era Mao. A adesão de Mao ao marxismo se daria pouco tempo depois. Embora tenha ido a Xangai e conversado com o professor Chen em junho de 1920, Mao não foi informado sobre a iminente fundação do Partido. O Grande Timoneiro não está entre os oito fundadores do PCC; ele só fez parte do círculo seguinte, a convite de Chen (o qual viria a ser expulso do PCC em 1929, por ordem de Stálin).

A fundação do PCC em 1920, e não em 1921, é confirmada pelo professor Liu Jianyi, do Departamento de Política da Universidade de York, em sua tese de mestrado intitulada “As origens do Partido Comunista Chinês e o papel desempenhado pela Rússia Soviética e o Comintern”, publicada no ano de 2000. Em seu trabalho, o professor Liu escreve:

“Por volta de agosto [de 1920], o PCC estabeleceu-se em Xangai com Chen Tu-hsiu como secretário. Li Han-jun rascunhou a constituição do Partido, que contém sete itens, o principal deles sendo ‘a ditadura dos trabalhadores e camponeses e a produção cooperativa. (…) Esta organização comunista em Xangai foi a célula fundadora do PCCh e funcionou como um grupo patrocinador do PCC. Na mesma época, um Bureau Revolucionário foi estabelecido em Xangai, consistindo de cinco membros: Voitinsky e quatro comunistas chineses, incluindo Chen Tu-hsiu, Li Tao-chao e Li Han-jun. O Bureau em Xangai atuou como um escritório central e escritórios subsidiários foram criados um após o outro em Pequim, Tianjin e Guangzhou com Polevoy, Stoyanovich e alguns outros membros do Partido Comunista Russo (Bolchevique)”.

No mesmo trabalho, descobrimos que não apenas o Partido Comunista Chinês já estava fundado em 1920 — sem a participação de Mao — como também já editava o próprio jornal, cujo título era… Gonchandang (em chinês, Partido Comunista):

“Em 17 de novembro de 1920, no terceiro aniversário da Revolução Russa, o Partido Comunista começou a publicação de seu órgão oficial. Na primeira edição de Gonchandang, Chen Tu-hsiu declarou: ‘Os trabalhadores chineses devem se unir e usar métodos para derrotar a classe capitalista na China e no exterior, e devem seguir o Partido Comunista Russo’. Isso mostra que os primeiros comunistas chineses estavam determinados a seguir o caminho da Rússia”.

Neste ponto, o leitor poderia perguntar: — Que diferença faz se o Partido Comunista Chinês foi fundado em 1920 ou 1921? Por que essa questão é revelante?

Ora, a questão sobre a data oficial de fundação do PCC revela uma característica essencial do regime que se assenhorou da China em 1949: o uso da mentira como método. Assim como a data de fundação foi alterada para acomodar o Grande Timoneiro, a mentira e a manipulação estão presentes nas grandes catástrofes históricas provocadas pelos comunistas. Em 1º de outubro de 1949, quando Mao discursou para 100 mil pessoas reunidas na Praça da Paz Celestial, o detalhe mais importante foi o que ele não falou. Mao não apresentou nenhum programa para beneficiar “o povo” em nome do qual tomara o poder. Em vez disso, iniciou uma longa série de execuções públicas. Da mesma forma, a mentira caracterizaria a campanha do Grande Salto para a Frente (que causou a morte de 40 milhões por fome e execuções), a selvagem Revolução Cultural, a famigerada Política do Filho Único (com o aborto de milhões de bebês, sobretudo do sexo feminino), o massacre da Praça da Paz Celestial e os campos de concentração que até hoje destroçam a vida de minorias e populações discriminadas; sem esquecer o coronavírus de Wuhan, que já ceifou 4,14 milhões de vidas. Quando o embaixador escreve “Deus é o povo”, talvez ele esteja se esquecendo não apenas de todas essas catástrofes, mas também do povo de Deus que está sendo perseguido hoje na China: segundo a organização Open Doors, cerca de 90% dos ataques a igrejas cristãs no mundo acontecem naquele país. Só entre novembro de 2019 e outubro de 2020 foram 3.088 ataques à casa de Deus.

Não foi o povo que fez nada disso; foram os seguidores de Mao Tse-tung, o maior assassino de todos os tempos, que escrevia e determinava a história ao seu bel-prazer.


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