Socorro! “Quero ir para qualquer lugar, desde que seja fora do Afeganistão”

Le Figaro escreve que mulheres, mas também homens, que trabalharam para os ocidentais e criticam os talibãs, podem até ser mortos

Artistas são perseguidos e amordaçados. A música foi proibida na mídia, as mulheres são impedidas de ir à universidade e ao trabalho. A única exceção, segundo o diário, são as funcionárias de hotéis chiques do país.

Da RFI
– Rádio França Internacional

Como é ser mulher sob o regime talibã no Afeganistão? “Um horror”, afirma o jornal francês Le Figaro desta quinta-feira (2) que entrevistou algumas ativistas e ex-colaboradoras de empresas ocidentais que não conseguiram fugir do país.

A longa reportagem revela a vida de várias afegãs que vivem aterrorizadas desde que os fundamentalistas islâmicos voltaram ao poder no país. Em todo o território, mulheres emancipadas, ativistas ou ex-colaboradoras dos ocidentais, se escondem para escapar dos abusos e do extremo rigor ideológico dos novos homens fortes de Cabul.

O principal testemunho é o de Nargis, uma jovem jornalista de 24 anos conhecida no mundo dos negócios e nas redes sociais. Desde 15 de agosto, e a tomada do poder pelo Talibã, ela começou a receber ameaças pelo telefone. “Você apareceu na televisão, você organiza reuniões mistas entre homens e mulheres, nós sabemos quem você é”, diz uma das mensagens.

A casa da jornalista foi revistada por talibãs armados. “Eles buscavam alguma coisa que me comprometesse. Tive medo que me matassem, me sequestrassem”, lembra Nargis. A ativista dos direitos das mulheres se escondeu durante três dias em um local insalubre da capital. Ela foi finalmente contactada por uma rede que ajuda os afegãos a fugirem e hoje aguarda em um hotel no norte do país, com apenas US$ 100 no bolso, um voo “para qualquer lugar, desde que seja longe do Afeganistão”, afirma.

Abusos se multiplicam nas províncias

A história de Nargis não tem nada de excepcional. Em Cabul e em várias províncias do país, ativistas e ex-funcionárias dos exércitos ou organizações ocidentais se escondem. Elas não conseguiram deixar o Afeganistão até 31 de agosto, quando os Estados Unidos se retiraram definitivamente do país. Muitas estão em abrigos coletivos, mas outras se escondem sozinhas, com medo de serem delatadas. Todas sabem que correm risco se forem descobertas.

Le Figaro escreve que mulheres, mas também homens, que trabalharam para os ocidentais e criticam os talibãs, podem até ser mortos. Um cantor foi assassinado na província de Kandahar, no sul do país, berço do movimento Talibã. Várias pessoas foram torturadas e despareceram. Inúmeras violações dos direitos humanos são cometidas nas províncias afegãs, longe das câmeras de TV que focam apenas a capital Cabul.

Artistas são perseguidos e amordaçados. A música foi proibida na mídia, as mulheres são impedidas de ir à universidade e ao trabalho. A única exceção, segundo o diário, são as funcionárias de hotéis chiques do país.

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