“A chance de um golpe é zero”, diz Bolsonaro em entrevista a VEJA

O presidente reconheceu que a inflação está ‘acima do razoável’, culpou a pandemia pela crise econômica e afastou a possibilidade de demitir o ministro Paulo Guedes

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) descartou a possibilidade de uma ruptura institucional no Brasil, durante entrevista à revista “Veja” publicada nesta sexta-feira (24).

“Daqui pra lá, a chance de um golpe é zero. De lá pra cá, a gente vê que sempre existe essa possibilidade”, disse.

O presidente afirmou que vai respeitar a decisão do Congresso, de rejeitar a implementação do voto impresso. Bolsonaro afirmou que “até elogia” o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, por ter incluído as Forças Armadas no processo. Assim, diz, se sente aberto a confiar no voto eletrônico.

“Olha só: vai ter eleição, não vou melar, fique tranquilo, vai ter eleição. O que o Barroso está fazendo? Ele tem uma portaria deles, lá, do TSE, onde tem vários setores da sociedade, onde tem as Forças Armadas, que estão participando do processo a partir de agora”, afirmou.

“Com as Forças Armadas participando, não tem por que duvidar do voto eletrônico. As Forças Armadas vão empenhar seu nome, não tem por que duvidar. Eu até elogio o Barroso, no tocante a essa ideia — desde que as instituições participem de todas as fases do processo”, completou o presidente Jair Bolsonaro, na entrevista.

Eleições 2022

Após alguns dias de especulações de que ele poderia não concorrer, o presidente afirmou que será candidato à reeleição no pleito de 2022. “Se não for crime eleitoral, eu respondo: pretendo disputar”.

Comentando a possível chapa, Bolsonaro não descartou completamente reeditar a chapa com o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB), mas ponderou que ele “não tem a vivência política” e “depois de velho é mais difícil aprender as coisas”.

O presidente da República sinalizou a possibilidade, também especulada, de que Mourão possa concorrer a uma cadeira no Senado e contar com o apoio de Bolsonaro para se eleger. “No meu entender, seria um bom senador”, afirmou.

Jair Bolsonaro segue sem partido – e, para concorrer, precisará ingressar em uma legenda até abril. O presidente citou legendas do chamado “Centrão”, que integram a base aliada, como opções de filiação.

“Não vou fugir de estar no PP, PL ou Republicanos. Não vou fugir de estar com esses partidos, conversando com eles. O PTB ofereceu para mim também”, afirmou o presidente.

Inflação

Questionado sobre a alta dos preços, o presidente admitiu que “o custo de vida cresceu bastante aqui, além do razoável”, afirmou que “não vai tabelar ou segurar preços” e buscou repartir a responsabilidade com outros entes federados e com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que passou a ter autonomia garantida por mandato após lei recentemente aprovada.

“Quero que o consumidor fique sabendo o preço do combustível da refinaria, o imposto federal, o transporte, a margem de lucro e o imposto estadual. Hoje toda crítica cai no meu colo. O dólar está alto, mas o que eu posso falar para o Roberto Campos? Quem decide é ele, que tem independência e um mandato”, afirmou o presidente.

Jair Bolsonaro responsabilizou a pandemia pelas dificuldades na economia. Ele rejeitou demitir o ministro da Economia, Paulo Guedes, argumentando que não pretende alterar a linha de pensamento da política econômica brasileira.

“Não existe nenhuma vontade minha de demiti-lo. Vamos supor que eu mande embora o Paulo Guedes hoje. Vou colocar quem lá? Teria de colocar alguém da linha contrária à ele, porque senão seria trocar seis por meia dúzia. Ele iria começar a gastar, e a inflação já está na casa dos 9%, o dólar em R$ 5,30. Na economia você tem que ter responsabilidade, o que se pode gastar, respeitando o teto de gastos. Se não fosse a pandemia, estaríamos voando na economia”, argumentou.

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