Filme sobre Dona Vitória apaga sua identidade negra e escala Fernanda Montenegro para o papel principal

O longa-metragem “Vitória”, que estreia nesta quinta-feira (13), retrata a história de Joana Zeferino da Paz, a idosa negra e alagoana que desafiou traficantes e policiais corruptos no Rio de Janeiro. No entanto, a produção gerou polêmica ao escalar a atriz Fernanda Montenegro, branca, para interpretar a protagonista, apagando sua identidade racial.

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Dona Vitória, como ficou conhecida, registrou crimes da janela de seu apartamento em Copacabana e entregou as gravações às autoridades, levando à prisão diversos envolvidos. A denúncia veio a público em 2005, por meio do jornalista Fábio Gusmão, que deu visibilidade ao caso e ajudou a encaminhar a idosa ao programa de proteção à testemunha.

A equipe do filme justificou a escolha de Montenegro alegando que, no momento da escalação, a identidade racial da protagonista ainda não era conhecida, já que a mulher vivia sob sigilo. A decisão foi tomada pelo primeiro diretor do longa, Breno Silveira, falecido em 2022.

Outra mudança significativa foi a escalação do ator negro Alan Rocha para interpretar o jornalista Fábio Gusmão, que na vida real é branco. A produção afirma que as alterações no elenco foram feitas para proteger a identidade dos envolvidos na denúncia, o que também levou à mudança dos nomes reais: no filme, Joana/Vitória se chama Nina, e Fábio Gusmão se torna Flávio Godoy.

Com a morte de Breno Silveira, o filme passou a ser dirigido por Andrucha Waddington, casado com a atriz Fernanda Torres, filha de Fernanda Montenegro. A veterana da dramaturgia teve grande reconhecimento recente, com sua filha conquistando o Globo de Ouro de Melhor Atriz e protagonizando “Ainda Estou Aqui”, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

A mudança na identidade da protagonista levantou debates sobre a importância da representatividade racial no cinema, especialmente em histórias baseadas em fatos reais. Para críticos, a decisão de escalar uma atriz branca para um papel originalmente negro reforça um padrão de apagamento histórico na indústria cinematográfica brasileira.

Enquanto a produção do filme sustenta que as alterações foram feitas para preservar os envolvidos, a decisão segue sendo questionada por setores que defendem maior fidelidade histórica e o respeito à identidade das personagens que marcaram a história real do país.

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