A inteligência artificial (IA) está se tornando vital em negócios e transações financeiras, assistência médica, desenvolvimento de tecnologia, pesquisa e muito mais. Sem perceber, os consumidores dependem da IA quando armazenam fotos, realizam uma pesquisa no Google ou fazem operações bancárias on-line. Por trás desses recursos, há mais de 10.000 data centers globalmente, cada um deles um enorme depósito contendo milhares de servidores de computador e outras infraestruturas para armazenar, gerenciar e processar dados.
E os data centers consomem enormes quantidades de eletricidade. Os data centers dos EUA já consumiram mais de 4% da eletricidade total do país em 2023, e até 2030 essa fração pode aumentar para 9%, de acordo com o Electric Power Research Institute. Um único desses grande data center pode consumir tanta eletricidade quanto 50.000 residências americanas.
Várias empresas que usam data centers para fornecer serviços de computação em nuvem e gerenciamento de dados estão anunciando algumas etapas surpreendentes para fornecer toda essa eletricidade. As propostas incluem construir suas próprias pequenas usinas nucleares perto de seus data centers e até mesmo contratar energia de usinas nucleares fechadas e não danificadas (como Three Mile Island) ou de outras concessionárias.
No passado, a computação não era uma usuária significativa de eletricidade. A maior quantidade da eletricidade produzida era usada para executar processos industriais e alimentar aparelhos domésticos e comerciais como bombas de agua, condicionadores de ar e luzes, e mais recentemente para alimentar bombas de calor e carregar carros elétricos. Mas agora, de repente, e em especial devido ao uso da IA, a eletricidade usada para a computação em geral e por data centers em particular está se tornando uma nova demanda gigantesca que ninguém previa anteriormente.
Os data centers que estão entrando em operação agora estão criando saltos sem precedentes na demanda que os operadores de sistemas elétricos não poderiam prever. Além disso, a nova demanda é constante 24 horas por dia. É fundamental que um data center forneça seus serviçoscontinuamente o dia todo, todos os dias. Não pode haver interrupções no processamento de grandes conjuntos de dados, no acesso a dados armazenados e na execução do equipamento de resfriamento necessário para manter todos os computadores compactados funcionando sem superaquecimento.
À medida que os fornecedores de serviços de dados que buscam fontes de energia limpa para seus data centers, uma opção pode ser construir suas próprias instalações eólicas e solares. Mas essas instalações geram eletricidade intermitentemente. Dada a necessidade de energia ininterrupta, o data center teria que manter unidades de armazenamento de energia, que não são de baixo custo. Em vez disso, eles poderiam contar com geradores a gás natural ou a diesel para energia de reserva, mas esses dispositivos emitem gases de efeito estufa maculando a energia limpa das fontes.
Por causa dessas dificuldades, vários dos fornecedores de serviços de dados estão se voltando para a energia nuclear. A energia nuclear parece ser bem adequada à demanda dos data centers, porque as usinas nucleares podem gerar muita energia de forma confiável, sem interrupção.
Em um movimento muito divulgado em setembro de 2024, a Microsoft assinou um acordo para comprar energia por 20 anos após a Constellation Energy reabrir um dos reatores não danificados em sua usina nuclear agora fechada em Three Mile Island. Se aprovado pelos reguladores, a Constellation colocará esse reator online até 2028, com a Microsoft comprando toda a energia que ele produz. A Amazon também anunciou ter fechado um acordo para comprar energia produzida por outra usina nuclear ameaçada de fechamento devido a problemas financeiros. E no início de dezembro, a Meta emitiu uma solicitação de propostas para identificar desenvolvedores de energia nuclear para ajudar a empresa a atender às suas necessidades de IA e suas metas de sustentabilidade.
Outras notícias nucleares focam em reatores nucleares modulares (SMRs), usinas de energia modulares construídas em fábrica que poderiam ser instaladas perto de data centers, potencialmente com a expectativa de poderem ser implantadas sem os excessos de custos e atrasos frequentemente experimentados na construção das grandes usinas. O Google recentemente encomendou uma frota de SMRs para gerar a energia necessária para seus data centers. O primeiro está programado para ser concluído até 2030 e o restante até 2035.
Todo esse movimento pode, e provavelmente terá, grande impacto no setor elétrico de vários países. Naqueles que para sua transição energética tem programado instalar fontes de energia limpa para substituir geração a base de carvão (como os EUA) esse impacto pode resultar em adiamento do fechamento dessas plantas a carvão. Essa poderia ser uma oportunidade para o Brasil, dado termos uma matriz já bastante limpa e onde as novas usinas seriam para atender essas novas cargas.