O jornalista Glenn Greenwald voltou a destacar uma reportagem publicada em agosto de 2023, na Folha de S.Paulo, em parceria com Fábio Serapião, que revelou mensagens de assessores do ministro Alexandre de Moraes sobre o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Segundo as mensagens expostas na matéria, o então juiz auxiliar de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marco Antônio Vargas, afirmou ao assessor Eduardo Tagliaferro que a intenção do ministro era “pegar o Eduardo Bolsonaro”. O assessor, por sua vez, chegou a chamar o filho do ex-presidente de “bandido”.
A reportagem voltou a circular após Eduardo Bolsonaro anunciar que permanecerá nos Estados Unidos e se licenciar do cargo de deputado federal. O parlamentar decidiu permanecer no país depois de um pedido de apreensão de passaporte feito por deputados do PT, sob a alegação de que ele propagou denúncias sobre supressão de garantias constitucionais no Brasil contra a direita.
Horas depois do anúncio de Eduardo, a Procuradoria-Geral da República (PGR) emitiu um parecer contrário à apreensão do passaporte, e Moraes arquivou o pedido do PT.
Greenwald, ao compartilhar a reportagem, afirmou:
“Esta é a reportagem que fizemos na Folha mostrando que os principais assessores de Moraes teriam discutido como o ministro do STF queria pegar Eduardo Bolsonaro”, escreveu o jornalista, incluindo um link e um print da matéria.
Conversas de Assessores de Moraes e a Tentativa de Associar Eduardo Bolsonaro a “Fake News”
A investigação de Greenwald foi baseada em conversas de WhatsApp de novembro de 2022, obtidas no celular de Eduardo Tagliaferro, então chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED), órgão subordinado a Moraes no TSE.
De acordo com a reportagem, Moraes teria orientado sua equipe a buscar uma conexão entre Eduardo Bolsonaro e o argentino Fernando Cerimedo, acusado de divulgar supostas informações falsas sobre fraudes nas eleições de 2022.
No dia 4 de novembro de 2022, o juiz auxiliar Marco Antônio Vargas enviou a seguinte mensagem a Tagliaferro:
“Ele quer pegar o Eduardo Bolsonaro. A ligação do gringo com o Eduardo Bolsonaro.”
Tagliaferro respondeu de forma cautelosa:
“Será que tem?”
As mensagens mostram que os assessores começaram a procurar evidências para embasar a suposta ligação entre Eduardo Bolsonaro e Cerimedo. Tagliaferro chegou a mencionar um vídeo do deputado ao lado de uma bandeira de um jornal que promoveu as teorias de Cerimedo, sugerindo que isso poderia ser usado como um vínculo.
“Tem um vídeo do Eduardo Bolsonaro com a bandeira do jornal que fez a live de ontem, conseguimos aí relacionar ele àquilo”, escreveu Tagliaferro.
“Que beleza”, respondeu Vargas.
No dia 6 de novembro, Tagliaferro relatou a Vargas que Cerimedo e Eduardo Bolsonaro se conheciam há dez anos. Vargas então respondeu:
“Esse é bandido.”
Pouco depois, Tagliaferro brincou que, se Eduardo Bolsonaro fosse preso, o Brasil entraria em colapso.
Vargas então revelou que Moraes já estava emitindo ordens com base nas investigações.
“Gostou e está disparando ordens”, escreveu o juiz auxiliar.
Uma das mensagens capturadas pela investigação revela as instruções de Moraes para sua equipe:
“VARGAS: pode bloquear os sites indicados. AIRTON: na PET sobre isso vamos determinar o bloqueio também e o bloqueio das contas. Lembre-se sempre de dar ciência à PGR”, diz a conversa.
Mais adiante, Tagliaferro escreveu:
“Ele [Moraes] pode responsabilizar o EB pelas manifestações.”
Vargas respondeu rindo:
“Já mandou preparar investigação nesse sentido no STF kkkkk.”
Consequências das Conversas e a Atuação de Moraes
A reportagem não esclarece quais medidas foram efetivamente tomadas por Moraes após o envio do relatório. No entanto, fica evidente que houve um movimento interno para tentar ligar Eduardo Bolsonaro a atividades ilegais, mesmo que não houvesse, de imediato, uma conexão concreta.
As mensagens reveladas colocam em xeque a imparcialidade de Moraes e sua equipe, especialmente no que diz respeito às investigações sobre opositores do governo Lula. O fato de um assessor declarar que o ministro queria “pegar Eduardo Bolsonaro” indica um possível uso do Judiciário para fins políticos, algo que Greenwald e outros analistas vêm denunciando nos últimos anos.
O episódio reforça as críticas sobre a atuação de Moraes no STF e no TSE, especialmente no que se refere à sua postura em relação à oposição política. O fato de a PGR ter rejeitado o pedido de apreensão do passaporte de Eduardo Bolsonaro pode indicar um recuo estratégico diante das revelações feitas anteriormente.
Enquanto isso, Eduardo Bolsonaro segue nos Estados Unidos, onde deverá buscar apoio político e denunciar o que considera ser uma perseguição contra ele e sua família no Brasil.
Esta é a reportagem que fizemos na @Folha mostrando que os principais assessores de Moraes teriam discutido como o ministro do STF queria “pegar Eduardo Bolsonaro”.https://t.co/pUrwLaSfnQ https://t.co/nx4vNZqtcq pic.twitter.com/n7JQDxHTb8
— Glenn Greenwald (@ggreenwald) March 19, 2025