No centro do poder político brasileiro, Brasília começa a se destacar também como um terreno fértil para o avanço das deep techs — empresas de base tecnológica que investem fortemente em pesquisa científica para solucionar problemas complexos. A proximidade com o governo federal, o acesso a bancos de dados públicos e a presença de instituições acadêmicas robustas formam uma combinação única para impulsionar esse tipo de inovação.
Para discutir o assunto, a The Collab com parceria da Web Summit, realizaram um painel sobre “Estratégias de Deep Tech para o Futuro das Organizações” no evento Executive Happy Hour, Brasília Edition. A mesa foi um aquecimento para o Web Summit Rio.
Segundo Gustavo Bodra, CTO da StartSe, o potencial já existe, mas ainda falta aproveitar melhor o que está disponível. “A gente já tem muita coisa, então a gente já tem muita informação. É usar essa informação para gerar melhores políticas públicas e usar isso como caso para depois a gente fomentar outras transformações”, afirma. Ele cita como exemplo o uso do DataSUS para desenvolver soluções em saúde pública. “Pega as universidades daqui de Brasília, chama bons pesquisadores e fala: olha, estão aqui os dados do DataSUS, me ajuda a pensar numa solução diferente para dengue, sei lá, alguma coisa assim.”
A proposta é simples e poderosa: unir dados públicos com capacidade de pesquisa e estrutura governamental para criar inovações que possam ser aplicadas em escala nacional. E Brasília tem todas as peças desse quebra-cabeça à disposição.
Para Diego Aristides, CEO da The Collab — hub de inovação com sede na capital —, estar no centro das decisões nacionais é um diferencial estratégico. “Nos últimos anos temos visto um aumento significativo de iniciativas para promover o crescimento de startups no Brasil — e os incentivos fiscais em Ciência, Tecnologia e Inovação têm sido fundamentais para acelerar o desenvolvimento de empresas de base tecnológica”, diz. “Estar em Brasília, no coração das decisões nacionais, fortalece ainda mais essa agenda.”
A missão do The Collab, segundo Aristides, é conectar os diversos atores do ecossistema — governo, academia, setor privado e sociedade — para transformar conhecimento em impacto. “Essa integração, somada à participação ativa do setor privado, abre caminho para que o Brasil se torne uma referência global em deep tech”, afirma.
Apesar do cenário promissor, ainda há gargalos que limitam o potencial da região. A burocracia e a falta de divulgação sobre linhas de fomento são os principais obstáculos, como aponta Bodra. “Eu acho que o principal é o desconhecimento das empresas dessas linhas de crédito e a complexidade do processo para conseguir se aplicar. Então assim, eu não conheço, portanto, eu nem vou atrás, mas quando eu conheço e ir atrás dá tanto trabalho, é tão burocrático que eu acabo desistindo.”
A solução, ele acredita, passa por uma simplificação do processo e uma comunicação mais clara por parte do governo. “Se a gente simplificar esse processo de aplicação, óbvio, sem perder governança e sem deixar isso muito solto e ao mesmo tempo divulgar mais, eu acho que a gente tem mais gente usando e consequentemente gerando mais resultado.”
Segundo os especialistas, com uma base sólida e os atores certos reunidos em um mesmo território, Brasília tem os elementos necessários para se tornar um laboratório vivo de políticas públicas inovadoras — e um polo de deep techs com impacto global. O desafio agora é transformar o potencial em prática.
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Correio Braziliense