Após um dia de alívio na véspera, os mercados voltaram a reagir negativamente aos movimentos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em meio à guerra comercial que se intensifica a cada sessão. Nesse contexto, o dólar disparou novamente nesta quinta-feira (10/4) frente ao real e encerrou o pregão em alta de 0,88%, cotado a R$ 5,898.
No cenário internacional, os EUA voltaram a elevar as tarifas sobre as importações chinesas ao país. Desta vez, a Casa Branca comunicou que houve um erro de interpretação no último anúncio feito por Trump, que revelou no dia anterior um avanço para 125% nas taxas aplicadas à China.
Em vez disso, o governo norte-americano informou que a tarifa real sobre os produtos chineses é de 145%, visto que 20% da taxa foi aplicada antes das chamadas “tarifas recíprocas”, desde o último dia 2 de abril. Ainda no início do mandato do republicano, ele anunciou suas tarifas de 10% sobre essas importações, com a alegação de que o governo de Pequim favorecia a imigração ilegal e entrada de fentanil nos EUA.
Diante disso, as tarifas implementadas aos produtos chineses são, de longe, as maiores, em termos nominais, que já entraram em vigor contra o país asiático. A todo o resto do mundo, as taxas recíprocas foram reduzidas para 10% pelo período de 90 dias, enquanto diversas nações devem entrar em processo de negociações com os norte-americanos para diminuírem suas taxas.
Ao mesmo tempo, a China mantém as tarifas retaliatórias de 84% sobre os produtos norte-americanos que vigora desde a quarta-feira (9), e não dá sinais de recuo, a exemplo do que fazem os EUA. Para o especialista em investimentos da Nomad, Bruno Shahini, embora a pausa de Trump no aumento de tarifas recíprocas tenha sido um fator-chave de alívio nos mercados de ações, as incertezas ainda permanecem.
“A volatilidade da política comercial de Trump deve continuar sendo um fator de pressão negativo para as moedas emergentes, especialmente o real. A economia brasileira tem elevada sensibilidade à diminuição do crescimento da China e a taxa de câmbio vem sendo um dos principais mecanismos de transmissão desses riscos”, avalia.
Fechamento do mercado
Diante deste cenário, os principais índices dos Estados Unidos voltaram a fechar a sessão no vermelho, com a persistência da volatilidade no mercado de ações. Em Nova York, houve queda generalizada, com o Dow Jones em baixa de 2,5% e o S&P 500 perdendo 3,46% no final do dia. Já o Nasdaq, que reúne as gigantes da tecnologia, foi a mais impactada, com redução de 4,31% no valor de mercado, repercutindo nova queda das ações das big techs.
Nesse contexto, as ‘Seven Magnificents’ – que são as sete maiores empresas do mundo em capital: Apple, Microsoft, Nvidia, Amazon, Alphabet (Google), Meta (Facebook) e Tesla – tiveram perda de US$ 698 bilhões apenas no pregão desta quinta-feira. A maior queda individual foi da Nvidia, que desabou em US$ 165 bilhões, seguida pela Apple, que perdeu US$ 126 bilhões em valor de mercado.
Desde o último dia 2 de abril, chamado de “Dia da libertação” por Donald Trump, todas as empresas listadas em bolsas de valores dos Estados Unidos perderam quase US$ 3 trilhões. Somente as Seven Magnificents tiveram queda superior a US$ 1 trilhão nesse mesmo período. Os dados foram levantados pela consultoria financeira Elos Ayta.
“O recuo simultâneo dos dois blocos — grandes techs e demais companhias — reflete uma piora no humor dos investidores globais em relação aos ativos de risco. O movimento ocorre em meio a dados mistos da economia americana, revisões nas expectativas sobre juros e um cenário geopolítico mais incerto, fatores que adicionam volatilidade aos mercados”, avalia a consultoria.
Por outro lado, as bolsas na Europa e na Ásia surfaram no movimento de trégua do dia anterior, quando Trump recuou em aplicar as tarifas recíprocas de 20% para a União Europeia e outras que chegavam a quase 50% para países do Oriente. A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, aproveitou para saudar o adiamento em 90 dias das tarifas ao bloco e considerou a medida como um “grande passo” para a estabilização da economia global.
Já no Brasil, a bolsa acompanhou a repercussão negativa com a correção para 145% das tarifas impostas aos chineses e o temor com a guerra tarifária, que permanece no ar, mesmo que não tão intensa como há dois dias. O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa B3) fechou em queda de 1,14%, aos 126.344 pontos, com as ações do setor petrolífero liderando as perdas.
Os preços internacionais do petróleo tiveram baixas substâncias no pregão desta quinta-feira, com os principais indicadores encerrando o dia em queda superior a 3%. Nesse contexto, as ações da Petrobras ficaram entre as maiores perdas do dia na bolsa brasileira, com resultados negativos de 6,49% das ações ordinárias, e de 6,22% nas preferenciais. Os papeis da Petrorio tiveram a maior baixa do dia, com variação de -8,11%.
Correio Braziliense