Nos últimos dias, ganhou força nos bastidores políticos a discussão sobre um possível “caminho do meio” para a questão da anistia aos envolvidos nos eventos do 8 de janeiro. Essa saída poderia se concretizar de duas formas: por meio de um indulto concedido pelo presidente Lula (PT) ou por uma revisão da dosimetria das penas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), reduzindo as condenações dos réus.
A proposta surge como uma tentativa de retirar essa pauta polarizadora do centro do debate público, permitindo que o país avance em agendas consideradas mais urgentes e que beneficiem a ampla maioria da população. Além disso, representaria um gesto de recuo tanto do Planalto quanto do STF, contribuindo para distensionar o atual clima de tensão política, que tende a se agravar com a possível prisão de Jair Bolsonaro (PL) no final do ano.
No entanto, como todo acordão político, essa solução não está livre de riscos. A principal dúvida é: o que viria depois? Historicamente, as anistias de 1945 (para os envolvidos no Estado Novo) e de 1979 (durante a abertura política) não garantiram o fim dos radicalismos no país. Pelo contrário, em ambos os casos, setores extremistas seguiram atuando, ainda que marginalizados. Nada assegura, portanto, que uma eventual anistia em 2025 eliminaria de vez a influência desses grupos.
Apesar dos possíveis benefícios em termos de pacificação momentânea, a medida poderia ser interpretada como impunidade por parte da sociedade, reacendendo debates sobre justiça e responsabilidade. Além disso, há o risco de que, em vez de encerrar o ciclo de conflitos, a anistia apenas adie enfrentamentos futuros, mantendo viva uma chama de radicalização que pode voltar a se inflamar em novos contextos políticos.
Assim, enquanto o “caminho do meio” parece atraente como solução imediata, seus efeitos de longo prazo permanecem incertos. O desafio dos Três Poderes será equilibrar a necessidade de reduzir tensões com a obrigação de garantir que a justiça seja feita — sem repetir os erros do passado.
CNN Brasil