A poucas horas do início das eleições presidente no Equador, o presidente equatoriano, Daniel Noboa, candidato que disputa a reeleição contra Luisa González, determinou estado de exceção em sete das 24 províncias. Ele ser a medida necessária para conter o avanço da violência das gangues do tráfico de drogas. Válida por 60 dias, a decisão suspende os direitos à inviolabilidade do domicílio e da correspondência, e a liberdade de reunião, e impõe toque de recolher noturno, às 19h. Paralelamente, foi limitada a entrada de estrangeiros nas fronteiras terrestres com a Colômbia e o Peru, área de atuação dos traficantes.
Essas eleições são acompanhadas de perto pelas autoridades brasileiras. O ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), integra a Missão Integrada de Observação Eleitoral da União Interamericana dos Órgãos Eleitorais (Uniore), e o embaixador do Brasil em Quito, Flávio Damico, que está atento à polarização entre direita e esquerda na intrincada situação política e econômica do país. Segundo ele, não há risco de desrespeito às forças democráticas.
“A democracia no Equador está preservada com toda certeza. Não restam dúvidas de que a vontade das urnas será respeitada e os eleitores vão poder votar de acordo com suas convicções”, afirmou o embaixador. As zonas eleitorais estarão abertas neste domingo de 7h as 17h. A votação é manual, a marcação é feita à caneta. A estimativa é que 3.736.315 eleitores devem ir às urnas. Reservistas, de 19 a 45 anos, foram convocados para apoiar as forças de segurança.
Noboa e Luisa se enfrentam em meio à troca de acusações e uma disputa bastante acirrada. As pesquisas de opinião indicam empate técnico, com diferença em torno de 50 mil votos ora para um, ora para outro. No poder desde 2023, o atual presidente mantém uma luta árdua contra os grupos do tráfico de drogas, ligados a carteis internacionais, que buscam o controle em vários setores por meio de ameaças e medo. É o país que tem a mais alta taxa de homicídios na América do Sul: 38 por 100 mil habitantes, segundo o Insight Crime.
“Apesar da apreensão, mais do legítima da sociedade, durante a campanha e ao que tudo, nas votações, está tudo transcorrendo normalmente”, ressaltou o embaixador brasileiro. Os dois candidatos têm perfis bem distintos, mas os discursos acabam refletindo as preocupações da população, de cerca de 18 milhões de habitantes, em torno do avanço da criminalidade e da taxa de desemprego, que atinge mais de 20% dos trabalhadores, além da economia, que viveu três trimestres seguidos de recessão.
Polarização
Daniel, de 37 anos, é filho do Álvaro Noboa, político experiente que tentou chegar à Presidência por cinco vezes, enquanto o filho disputou em uma única oportunidade e venceu. Com discursos curtos, um olhar firme, ele tenta a reeleição concentrando os esforços no compromisso de dobrar a aposta para enfrentar um narcotráfico audacioso. Sempre cercado por forte esquema de segurança, também surge fez por outra no Instagram com roupas esportivas, guitarra acústica e cantarolando em inglês uma música dos Goo Goo Dolls.
Nascido nos Estados Unidos e formado por lá, Noboa assumiu o poder em um momento delicado do Equador para completar até maio o mandato de Guillermo Lasso. O ex-presidente dissolveu o Congresso e abriu o caminho para a realização de eleições antecipadas para fugir da destituição em um julgamento político por corrupção. Pouco tempo depois, os equatorianos viveriam um outro drama: o assassinato do político Fernando Villavicencio, ex-integrante da Assembleia Nacional, baleado na cabeça. Cinco pessoas foram condenadas pelo crime, inclusive uma mulher.
Afilhada política do ex-presidente Rafael Correa – condenado a oito anos de prisão por corrupção, vive como refugiado na Bélgica -, a advogada Luisa González, de 47 anos, sonha em ser a primeira presidente eleita do Equador e, assim, recuperar o poder para a esquerda. Ela passou boa parte da campanha negando ser fantoche do ex-governante. “Quem vai governar é Luisa González”. Nos discursos, defende programas sociais, combate à violência e criminalidade e a busca por alternativas para amenizar as taxas de desemprego.
Correio Braziliense