O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acenou nesta segunda-feira com a possibilidade de isentar os automóveis das tarifas de 145% impostas sobre a China e de 25% sobre os demais países. Ao mesmo tempo, advertiu que as tarifas sobre celulares e computadores, que ele isentou na semana passada, poderão voltar, de forma escalonada, além de novas taxas sobre medicamentos e semicondutores.
As idas e vindas de Trump refletem a complexa realidade que a imposição das tarifas escancarou: em um mundo globalizado, em que a regra são os bens manufaturados conterem partes, componentes, matérias-primas e insumos de diversas origens, a formação do preço é muito sensível a qualquer alteração de alíquotas de impostos.
Trump colocou a mão em um vespeiro econômico. Diferentemente do seu primeiro mandato, ele pareceu pronto para absorver quedas vertiginosas nas ações das empresas americanas na Bolsa de Valores, mas não para assistir ao mercado perder o interesse pelos títulos do Tesouro americano, o tradicional porto seguro mesmo quando as crises eram originadas dos Estados Unidos, como no caso da explosão da bolha imobiliária em 2008.
Diante da corrida para vender os títulos, no dia 9, e consequente necessidade de elevar os juros para financiar a dívida americana, o presidente suspendeu por 90 dias as tarifas supostamente recíprocas, que na verdade foram calculadas em razão do déficit para com cada país.
Para ofuscar o dano do recuo sobre sua imagem, ele elevou as tarifas contra a China. Aparentemente Trump não contava com a reação chinesa, de continuar retaliando com novos aumentos de alíquotas a cada movimento americano nesse sentido.
Sem conseguir disfarçar sua preocupação com a bola de neve que ele mesmo desencadeou, Trump passou a reiterar desde então seu apreço pelo ditador chinês, Xi Jinping, e sua esperança de que eles possam negociar.
Mas o regime chinês não está disposto a aceitar uma humilhação por parte dos Estados Unidos. O século 19 é conhecido pela China como o século da humilhação, por causa da imposição britânica e depois americana de abertura do país para o comércio, nos tratados da Nanking e de Wanghia, em 1842 e 1844, respectivamente.
A queda na Bolsa de Valores de Xangai, causada pela guerra tarifária, foi contida e até revertida, na semana passada, pelas compras de ações de empresas chinesas, por parte de fundos soberanos e empresas estatais, que formam o chamado Time Nacional.
A China não deseja a guerra comercial, mas deseja menos ainda negociar numa posição de fraqueza. Xi se mostra mais preparado do que Trump para a guerra que ele causou.
CNN Brasil