As últimas semanas marcaram um momento importante no calendário climático global. De um lado, a Conferência de Bonn (SB58), que funciona como etapa técnica para preparar o terreno para a COP30 em Belém, expôs novamente os grandes nós que ainda precisamos desatar, como a falta de consenso sobre o novo objetivo de financiamento climático pós-2025 e a ousada proposta de transformar o Global Stocktake em uma NDC Global, com metas coletivas e mais transparência.
Também, do outro lado do Atlântico, a London Climate Action Week (LCAW) surpreendeu pela energia e pela força de mobilização. Foram mais de 700 eventos, encontros e rodadas de diálogo em uma semana que já é apontada como uma das maiores da história: reflexo, também, do esperado esvaziamento da Climate Week de Nova York, que até então concentrava grande parte das discussões globais.
Tive a oportunidade de participar ativamente de vários momentos estratégicos dessa semana em Londres. Um dos destaques foi a mobilização promovida pela SB COP, onde mais de 200 líderes de governos, setor privado e sociedade civil debateram como transformar compromissos em entregas reais. Essa rede já conecta mais de 40 países e 32 milhões de empresas, articuladas por suas associações empresariais com foco na indústria.
Nesse espaço, discutimos oito áreas-chave que estão na linha de frente da transição climática:
1. Transição energética
2. Bioeconomia
3. Mercado de carbono e soluções baseadas na natureza
4. Sistemas alimentares sustentáveis
5. Cidades resilientes
6. Economia circular
7. Financiamento para transição
8. Green skills, ou seja, habilidades verdes para preparar a força de trabalho para uma economia regenerativa.
Esses temas foram debatidos em colaboração com organizações como IFC e ICC, com participações fundamentais da CEO da COP30, Ana Toni, e do presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago.
Outro momento importante foi a reunião com David Richard Evans, Baron Evans of Sealand, novo envoy para Comércio e Infraestrutura para Adaptação do Reino Unido, na House of Parliament. Conversamos sobre como acelerar parcerias público-privadas que tirem projetos do papel, debatendo, inclusive, o caso do Peru como inspiração para soluções de adaptação aplicáveis ao Brasil.
A semana foi marcada também pela força do tema green skills, que apareceu na mesa redonda da força-tarefa global que reuniu governo alemão, LinkedIn, WRI, entre outras organizações. Ali, reforçamos que a formação de pessoas será um dos maiores diferenciais para garantir que a transição para uma economia de baixo carbono seja justa, inclusiva e gere empregos de qualidade.
E enquanto o mundo discute tecnologias cada vez mais sofisticadas, inclusive o impacto da Inteligência Artificial, que pode trazer grandes soluções climáticas mas também aprofundar desigualdades e eliminar postos de trabalho de quem mais precisa, o Brasil manda um recado importante: nosso caminho pode estar no resgate da nossa própria inteligência ancestral.
Não à toa, tivemos nesta semana a definição do Curupira como mascote oficial da COP30. O guardião das florestas, símbolo da sabedoria dos povos originários e da relação equilibrada entre homem e natureza, inspira uma pergunta fundamental: como podemos honrar essa inteligência regenerativa para criar prosperidade para quem mais precisa?
Em um mundo pressionado por crises sobrepostas: climática, social, econômica e tecnológica; a mensagem é clara: não basta negociar metas. Precisamos mobilizar, executar e regenerar. A ação precisa sair dos papéis e contratos para chegar na floresta, na cidade, no campo e, principalmente, na vida de quem mais precisa de oportunidade.
De Bonn a Londres, o recado é um só: a transformação só será possível se governos, setor privado e sociedade civil caminharem juntos, e se fizermos isso com propósito, coragem e cuidado com as pessoas e com o planeta.
Fonte: CNN Brasil