A era da desinformação planejada: conservadorismo em risco!

A palavra verdade pode ter vários significados, como o sentido de fidelidade, a constância ou a sinceridade em atos, a palavras e o caráter – a conclusão baseada na evidência, um facto inevitável ou as respostas lógicas.

Ela pode significar o que é real ou possivelmente real dentro de um sistema de valores, em uma respectiva sociedade.

Entretanto, não há um consenso entre filósofos e acadêmicos sobre seus significados. Todas as teorias e visões acerca do significado de verdade continuam sendo discutidas à exaustão no debate público.

Por outro lado, com a ausência – ou aparente ausência – da verdade, deparamo-nos com a mentira.  Segundo Paul Ekman, uma mentira é contada quando “uma pessoa tem a intenção de enganar a outra, o fazendo deliberadamente, sem notificação prévia de seu propósito e sem ter sido explicitamente solicitada a fazê-lo pelo alvo”.

As tradições éticas e os filósofos ainda não chegaram ao consenso de que mentir seja, ou não, um comportamento ou situação permissível – Platãodisse sim, enquantoAristótelesSanto Agostinho e Kantdisseram não.

De qualquer forma, existe o nexo que faltar com a verdade é contra os padrões morais das pessoas e é punida como um pecado em diversas religiões.

Há quem afirme que o mundo não funcionaria sem a mentira, mas até que ponto podemos aceita-la?

É importante ressaltar a necessidade individual de todo ser humano em descobrir “a verdade sobre os fatos”.

A partir desta premissa simples, nasceu a prensa – máquina responsável por criar as bases da indústria do livro e por incentivar a popularização do saber.

O que hoje conhecemos por imprensa ou mídia das massas, é um produto direto da inevitabilidade de divulgar ideias para um número cada vez maior de pessoas.

Desde de seu nascimento ela foi instrumentalizada pela elite intelectual reinante para manipulação de opiniões e consciências; processo observável na evolução tragicômica do jornalismo brasileiro de 1964 (pós governo militar), até 2019.

Com efeito, a mídia sempre venceu a guerra por narrativas, pois monopolizou os meios tecnológicos para tal. Tornando-se assim, uma espécie de quarto poder do estado democrático de direito, o famigerado e, aparentemente, exclusivo, “direito/dever de informar o cidadão”.

Mas isso mudou com o advento da internet e as redes sociais.

“Não contavam com minha astúcia”, disse o brasileiro internauta, em 2018, ao descobrir que poderia driblar a agenda política-cultural globalista, através de um simples aparelho eletrônico, e eleger um Presidente comprometido em quebrar a hegemonia sistêmica – outro resultado da massiva “passada de pano” da mídia para os governos anteriores.

Neste contexto, nasceram as famosas “fake news” – palavra da moda e forte candidata para ganhar o óscar de palavra mais utilizada no debate público do Século XXI.

Apesar de 73% dos brasileiros desconfiarem da mídia brasileira, segundo pesquisa do Instituto Ipsos, ela ampliou seus serviços – que na maioria dos casos poderíamos chamar desserviços – para a Internet, também apelidada de terra de ninguém.

Não por acaso, as eleições brasileiras do ano passado inauguraram o uso do termo fake news no processo jornalístico eleitoral.

Como decorrência da possibilidade de livre informação na internet, nasceram as agências de fact chekings, que são as melhores amigas da mídia elitista.

Estas, autointituladas proprietárias da verdade e salvadoras do mundo apocalíptico criado pela best friend, brotaram na web como uma espécie de Jesus Cristo – carregando consigo o discurso de libertação populista das garras malvadonas das fake news.

Sob esta visão, é imprescindível observar que o teatro atual consiste, aparentemente, em mentir e desmentir freneticamente, através de diversos meios de comunicação interligados, para então lotar o indivíduo de dúvidas.

Por fim, cumprir-se-á o objetivo primordial da mídia marrom; desinformar para manipular e criar o caos planejado.

A rigor, numa democracia republicana, a opinião pública aparece como autoridade.

Por consequência, o sentido de democracia é validado na legitimação da opinião individual, responsável pela formulação da opinião pública, moda e tendências comportamentais.

Entretanto, em paralelo com o aparelhamento do Estado e a criação da “mídia estatal”, a antiga detentora do quarto poder e apelidada de “máquina de moer do sistema”, vieram os instrumentos estatais que justificam o controle arbitrário de opiniões discordantes.

A criminalização do “discurso de ódio”, é um ótimo exemplo do abuso excessivo do establishment para silenciar civis insatisfeitos com o vergonhoso desserviço prestado pela mídia e políticos nesse país.

Assim, o controle estatal dos discursos públicos é evidenciado por meios de campanhas político ideológicas, declarações de celebridades, e, recentemente, parecem ter atingido alguns membros conservadores do debate público.

Estes, que foram unidos pelo antipetismo, são grupos e movimentos conservadores que surgiram na internet Brasileira nos últimos anos.

Gradualmente, estes grupos estão dividindo-se entre conservadores liberais, mais voltados aos pensamento cético de Edmund Burke, e conservadores liberais mais inclinados ao molde reacionário do pensamento do terceiro estado francês.

Ambos os grupos brasileiros aparentavam lutar pela queda do elitismo brasileiro, mas o grupo reacionário seguiu novos rumos e aproxima-se, perigosamente, do padrão comportamental revolucionário que derrubou a bastilha e transformou a revolução francesa em derramamento de sangue desnecessário.

Por entender que o discurso sensacionalista explora os fatos por inúmeros motivos, como vender jornais, ganhar mais likes, aumentar a monetização, ou não ser isolado na espiral do silêncio, é necessário observar, com ceticismo, as mudanças comportamentais de apoiadores do governo Bolsonaro.

O discurso inflamado e apocalíptico que costuma distanciar-se do pragmatismo e beirar a insanidade retórica, provoca, automaticamente, o caos idealizado pela mídia marrom.

Sob esta perspectiva, a atual estratégia da mídia – e infelizmente de inúmeros apoiadores do governo que não conseguiram evoluir e desprender-se do puro ideal reacionário – é fazer o conservador raiz parecer tão extremista quanto o petista.

Assim, centro esquerda e centro direita, ambos liberais e nem sempre conservadores, tomarão conta do debate público e isolarão os menos influentes para a espiral do silêncio.

Torna-se assim, como prioridade do conservador contemporâneo, a necessidade de distinguir a diferença entre influenciadores políticos que ostentam o uso da ameaça como fonte de legitimação das suas ideias e são absorvidos pela crença mística nas suas próprias pseudoverdades – tornando-se presunçosos e hostis à crítica alheia; e influenciadores que velam pelo discurso cético burkeano, que são conscientes das limitações inerentes à natureza humana, cientes do perigo representado por grupos com discursos vazios e meramente inflamatórios – desconfiando das narrativas ou grupos subitamente revelados.

Ao conservador, portanto, impõe-se a postura de desconfiança/ceticismo.

Enquanto o alarmista prende-se ao coro da massa como forma de discurso e aceitação própria, o conservador atem-se a própria tradição, que eventualmente poderá reclamar reformas pontuais, desde que que resultem de um longo processo de experimentação, ao invés de uma ruptura radical com o passado.

Logo, confie desconfiando.

As narrativas que validam a ordem política são benéficas desde que brotem da tradição – sejam experimentas por um longo processo de acúmulo de conhecimentos e limitem-se à gestão dos conflitos sociais, sem fazer o uso constante do discurso coercitivo para legitimar suas ações.

“A boa ordem é o fundamento das boas coisas.” (BURKE, 1982: 219). A manutenção da ordem evita o caos moral e cria princípios eternamente inegociáveis para os conservadores.

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