Prefeita de Bauru: ‘Não preciso me render a ninguém para defender meu município’

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Ao longo dos 37 dias em que está no comando da prefeitura de Bauru, no interior de São Paulo, a jornalista Suéllem Rosim (Patriota) defendeu sua opção para reduzir perdas e danos: retomar a atividade econômica do município, promover a volta às aulas e fortalecer a rede hospitalar.

No entanto, recentemente, o gabinete dela teve dias agitados. Isso porque a Justiça do Estado obrigou Suéllem a fechar as portas dos “serviços não essenciais”. Além disso, foi insultada pelo governador João Doria, numa coletiva de imprensa. A Revista Oeste conversou com a prefeita.

Eis os principais trechos da entrevista:

Qual era a situação da prefeitura de Bauru quando a sra. a assumiu?

Com muito a ser feito e pouco recurso. Temos carências: a falta de água em vários bairros e o término da estação de tratamento de esgoto, por exemplo. Estamos com o caixa muito apertado. Não temos recursos para fazer obras que exigem grandes investimentos. Para isso, dependeremos do dinheiro do Estado, do governo federal e, claro, da nossa expertise em administrar a cidade. Além disso, há outras questões: os casos de covid-19, a volta às aulas e a recuperação da economia. Bauru é dependente do comércio e dos serviços. Hoje, meu maior desafio é lidar com essas demandas e resolver os problemas de infraestrutura. Queremos oferecer os melhores resultados à população. Meu compromisso é organizar a casa.

Há um cronograma para a volta às aulas?

Sim. As escolas municipais reabrem em 22 de fevereiro. Será um retorno gradual e facultativo. Embora nosso objetivo seja reinserir as crianças no âmbito escolar, não conseguiremos fazer tudo de uma vez. Por ora, adotamos o sistema híbrido (com alternância de aulas presenciais e à distância). Entre outras medidas, temos o desafio de acompanhar a questão do distanciamento e munir as unidades com equipamentos de segurança. Consideramos que a educação é essencial. Se mantivermos as escolas fechadas, comprometeremos os futuros médicos, as futuras enfermeiras e os demais profissionais.

Qual é a situação da rede hospitalar de Bauru hoje? Há risco de colapso?

Tem sido um desafio a ampliação do número de vagas de internação em Bauru. É um problema antigo no município e que, numa pandemia, tende a se agravar, sobretudo porque, no fim do ano passado, tivemos diminuição de leitos. Temos o Hospital das Clínicas (HC), construído pela USP [Universidade de São Paulo], entretanto, hoje ele funciona como uma unidade de campanha, ou seja, opera parcialmente. O Estado havia se comprometido a abri-lo em definitivo, o que ainda não ocorreu. Mas, se tivermos o HC, garantiremos as vagas de internação e de UTI necessárias. Na quarta-feira 3, houve uma reunião — ressalto que não fui convidada — e o governo [Doria] anunciou a chegada de 112 novos leitos de UTI, o que vai pôr o município numa situação melhor. Continuaremos as cobranças porque os bauruenses esperam a abertura do HC. Felizmente, não há risco da rede de saúde entrar em colapso.

E as vacinas contra o coronavírus? Há previsão de chegada?

As vacinas já chegaram e estão vindo, regulamente, tanto do governo estadual quanto do federal. Até este fim de semana, a previsão é a de que finalizaremos a imunização de todos os profissionais de saúde. Nos próximos dias, será a vez dos idosos.

Como é o seu plano de retomada da economia?

No meu decreto, decidimos limitar o comércio, mas sem fechá-lo. Nos estabelecimentos, a quantidade máxima de pessoas permitida tornou-se de 30%, respeitando as medidas sanitárias, como o uso do álcool gel. A partir das 20h, só o delivery funciona, e aos fins de semana também. Bebida alcoólica ficou proibida na sexta-feira, no sábado e no domingo depois das 20h. Por que a bebida alcoólica? Porque as festas clandestinas eram nosso grande problema. Além disso, buscamos melhorar os transportes públicos e intensificar a fiscalização. Atualmente, a cidade segue na fase vermelha do Plano São Paulo, mas os vereadores ampliaram as atividades essenciais de modo a abranger o comércio. Enquanto prefeitura, tenho uma liminar que me proíbe de abrir o comércio.

Vai recorrer da decisão da Justiça?

Não. Eu atingi o meu objetivo, que era o de conseguir mais leitos. Minha briga não é para ser a prefeita rebelde do interior de São Paulo mas sim a de discutir, com o governo estadual, melhoras para o meu município.

A sra. e suas medidas têm tido respaldo positivo da maioria da população?

Sem dúvidas que é positivo. E, como eu falei a verdade, as pessoas perceberam isso. O apoio veio de forma natural. Caso contrário, não teria sido do mesmo jeito. Enquanto prefeita, defendi a nossa realidade.

Bauru tem recebido apoio do governo federal?

Recentemente, estive em Brasília, e fui muito bem recebida [pelo presidente Jair Bolsonaro]. Isso é bom, para uma cidade do interior de São Paulo. O governo federal abriu-me as portas, como o fez para outros municípios. Não tive resistência, pelo contrário, tive apoio. Viajei a trabalho, para levar as demandas da minha cidade: alagamentos, infraestrutura, entre outros. Enquanto município, dependemos de verbas dos âmbitos estadual e federal.

Diante das acusações do governador João Doria, a sra. recebeu solidariedade de algum grupo que supostamente milita em defesa dos negros, das mulheres e das chamadas minorias?

Não. O apoio que recebi foi das famílias e das pessoas que dependem do comércio. Grupos ativistas não se manifestaram. Penso que, para eles, há dois pesos e duas medidas. Não é fácil ser chamada de “negacionista”, quando sou realista, e de “vassala”, numa situação como a que estamos vivendo. Não tenho palavras sobre isso. Foi um completo desrespeito a mim, como mulher. Mas não preciso me render a ninguém para defender o meu município.

A sra. tem recebido alguma pressão ou ameaça?

Por ora, não. Contudo, estou monitorando isso. Qualquer desconforto que tiver, espero que fique restrito a Suéllen Rosim e não ao município de Bauru. Estou aberta ao diálogo.

REVISTA OESTE

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