O PREÇO DE UMA MÁ ESCOLHA! Crise argentina já é comparável ao desastre da Venezuela; inflação chegando a 70%

Já faz tempo que Argentina e crise soam como sinônimos — entra governo, sai
governo e o vizinho do sul não consegue se livrar da urucubaca política e
econômica que o arrasta para o abismo. A pandemia pegou o país com uma
dívida impagável, os preços subindo sem controle e a pobreza enchendo as
calçadas de pedintes. Ao longo dos meses de estagnação e medidas
impopulares, Alberto Fernández, o burocrata que o peronismo instalou na Casa
Rosada, rompeu de vez com sua criadora e vice, Cristina Kirchner. Resultado:
uma sequência de resultados negativos. Em março, o índice de inflação foi de
6,7%, o segundo mais alto do mundo, atrás apenas da Rússia em guerra (7,6%).
Em abril, foram os juros que fizeram os argentinos chorar: o Banco Central os
elevou pela quarta vez e a taxa anual chegou a 47%, um recorde planetário.

As perspectivas são desanimadoras. A inflação anual bateu em 55,1% e o
mercado calcula que, ao fim deste 16º ano consecutivo de taxa na casa dos dois
dígitos, ela dispare para 65%, o maior índice desde 1991. Quem tem de tocar a
vida nesse ritmo reclama do supermercado, da farmácia e da padaria, onde é
necessário muito jogo de cintura para driblar os acréscimos constantes, e mais
ainda do colégio e do plano de saúde, de onde partem aumentos fulminantes —
e incontornáveis — três ou quatro vezes por ano. No acumulado do primeiro
trimestre, só os gastos com educação subiram 27,9%. “Esses saltos arrebentam
o orçamento da família de classe média”, diz Marina Dal Poggetto, diretora da
consultoria EcoG.

Empenhada em escapulir do dragão, a vendedora Sabrina Cabrera Carrizo, 37
anos, casada com um mecânico e mãe de três filhos, se tornou uma caçadora
profissional de ofertas. No momento, orgulha-se de seu estoque doméstico de
sabão líquido e fraldas. Sabrina diz que aprendeu a detectar falsos descontos e
a identificar os dias, horários, locais e datas dos cartões de crédito para as
melhores compras, habilidades que a ajudam a economizar até 50% nos gastos.
“Temos de ser precavidos, poupar sempre, cortar o que não é essencial e focar
na busca de melhor preço”, receita. Nesta cruzada, ela abriu mão dos cortes de
primeira de carne bovina e das melhores marcas dos produtos. “Estamos
desprotegidos e isso é angustiante”, desabafa.


O Instituto para o Desenvolvimento Social da Argentina (Idesa) calcula que,
dos 46 milhões de argentinos, 40% se situam na classe média, mas só metade
dessa parcela está na chamada “classe média acomodada”, com salários acima
do equivalente a 15 000 reais por mês e poupança em dólar. Os demais se
acumulam na “classe média frágil”, que depende da soma dos ganhos de vários
membros da família e, se um perde o emprego, o grupo todo pode cair na
pobreza. Com o futuro em risco, a qualidade de vida desmorona. “A classe
média argentina vive pior do que a do Brasil, do Chile e do Uruguai”, afirma o
economista Jorge Colina, presidente do Idesa.

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