A Igreja Pentecostal Deus é Amor é uma das maiores e mais tradicionais
instituições evangélicas do Brasil. Fundada em São Paulo, em 1962, pelo
missionário David Miranda (falecido em 2015), a IPDA tem hoje mais de 17.000
templos e filiais em 88 países (veja o quadro).
Todo esse crescimento foi possível mesmo tendo uma das mais rígidas doutrinas entre as denominações
religiosas do país. As mulheres, por exemplo, não podem cortar o cabelo, fazer
a sobrancelha ou se depilar. Aos homens não são permitidas barbas longas nem
calças apertadas. Seus membros também não podem frequentar praias.
A reafirmação das normas foi feita em julho do ano passado, durante uma
apresentação que contou com a presença da cúpula, como a diretora, Ereni
Miranda, viúva do fundador. Três meses depois, no entanto, um grande
escândalo abalou a instituição e resultou no afastamento de Léia Miranda, filha
de David Miranda, acusada de comportamento sexual impróprio. Na esteira do
episódio, a igreja se viu em meio a uma saraivada de acusações entre herdeiros
do patriarca e o barraco já chegou à Justiça. O pano de fundo é a luta pelo
controle da igreja.
O episódio que detonou a guerra familiar foi a divulgação de um áudio de
WhatsApp, cuja voz foi atribuída a Léia — nele, a pastora, cantora e missionária
supostamente fazia inconfidências sexuais sobre o seu relacionamento com um
pastor. O caso ganhou repercussão dentro e fora da igreja e Léia, mesmo
dizendo ser vítima de armação, foi afastada pela mãe do comando de duas
entidades: a Fundação Reviver e a Associação Beneficente Reviver Help.
GOLPE - Léia: afastada, ela foi ao ataque a seus parentes (@LeiaMirandaFanPage/Facebook)
O barraco gospel pegou fogo de vez no mesmo dia do anúncio da punição.
Assim que foi comunicada de seu afastamento, Léia pegou um microfone — no
momento ocorria um culto — e fez um discurso apontando o dedo para seus
detratores. “Ninguém está acreditando naquele áudio, apenas a diretoria. Por
quê? Por causa da corrupção ali dentro, por causa do conchavo com a
maçonaria, eles querem destruir a Igreja Pentecostal Deus é Amor e eu tenho
sido o obstáculo para eles realizarem isso ”, disse. Depois, citou nominalmente
David Oliveira de Miranda Almeida (seu sobrinho, conhecido como David
Neto) e a mãe dele, Débora Miranda (sua irmã). “Falsos, mentirosos, filhos do
diabo, escravos de Satanás, agindo desta maneira, pior que ímpios, é como eles
estão agindo.”
O incidente ganhou tração nas redes sociais, em especial em páginas de fofoca
gospel (sim, elas existem), e chegou à Justiça. Em dois processos distintos,
iniciados nas últimas semanas, Débora e David dizem que foram alvos de
injúria e difamação e pedem a condenação criminal da irmã/tia. “Se Léia
possuía insatisfações quanto à condução dos assuntos da instituição pela
diretoria, as quais, curiosamente, só afloraram após ser comunicada da medida
interna que lhe desagradou, ela certamente poderia tê-las endereçado de
maneira não ofensiva, que não estivesse resumida a ataques pessoais”, disse
Débora na ação
Como parte de sua defesa no caso, Léia processa as redes sociais que
continuam divulgando o tal áudio constrangedor. Ela nega que a voz seja sua e
contratou um perito para avaliar o material. O profissional, no entanto, não
conseguiu verificar a integridade do material, pois há montagens e supressões
de vozes. “Léia não teve um caso amoroso com o rapaz. Ela é divorciada, mãe
de dois filhos adultos, vive em meio evangélico e é necessário ter uma
reputação boa, ilibada, livre de quaisquer máculas”, afirma a defesa
Essa não é a primeira vez que um alto membro da Deus é Amor é afastado
depois de escândalo sexual e de brigas entre familiares. Irmão de Léia, David
Miranda Filho saiu da congregação em 2015, após vazarem áudios com
conteúdo sexual que ele teria enviado a uma jovem. Depois, ele acabou
fundando a sua própria instituição, a Igreja Pentecostal Santificação no Senhor,
em São Paulo. Agora, na nova briga familiar, ensaia se aproximar de Léia, com
quem teve desavenças na divisão da herança do pai.
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