Ozempic: Criado para tratar a diabetes, ele virou moda para outra coisa: emagrecer. As vendas dispararam. Mas a euforia esconde que a medicação pode levar ao câncer!

Criado para tratar a diabetes, ele virou moda para outra coisa: emagrecer. As vendas dispararam.
Mas a euforia esconde dois pontos críticos: ele precisa ser tomado pelo resto da vida (ou a pessoa
engorda de novo), e os medicamentos desse tipo têm uma questão mal resolvida envolvendo o risco
de câncer

Texto Bruno Garattoni e Tiago Cordeiro
Ilustração Felipe Del Rio
Design Natalia Sayuri Lara


“Todo mundo está tão bonito. Eu olho esta sala, e não posso deixar de me
perguntar: o Ozempic é certo para mim?”, disse o comediante e apresentador
Jimmy Kimmel no monólogo de abertura do Oscar 2023.


Foi uma piadinha: ele usou uma frase tradicional nas propagandas da indústria
farmacêutica nos EUA (“pergunte ao seu médico se o remédio tal é certo para você”).
O Ozempic virou mania em Hollywood, e Kimmel quis cutucar os artistas presentes –
vários dos quais talvez usem o medicamento.


Nos últimos meses, celebridades de diversos naipes, do empresário Elon Musk à
cantora Jojo Todynho, admitiram recorrer ao Ozempic, desenvolvido contra
a diabetes tipo 2, para perseguir outro objetivo: perder peso (um efeito secundário da
droga).


Em 2022, a farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk faturou US$ 8,5 bilhões com o
Ozempic, que mesmo custando caro (por volta de R$ 1.000 mensais) ficou em falta nas
farmácias dos EUA e do Brasil.


O TikTok está cheio de vídeos de pessoas mostrando o corpo antes e depois do
remédio, que já rendeu até o primeiro meme nas redes sociais – o chamado “rosto de
Ozempic”, em que as pessoas ficam com a cara chupada devido ao rápido
emagrecimento.


Em junho de 2021, o fabricante obteve aprovação da FDA para lançar outro produto, o
Wegovy, com o mesmo princípio ativo do Ozempic, a semaglutida – a diferença é que
ele tem doses mais altas, e é especificamente indicado para combater obesidade ou
sobrepeso. Já está no mercado americano, e deve chegar ao Brasil no segundo semestre
(foi autorizado pela Anvisa em janeiro de 2023).


As ações da Novo Nordisk dobraram de valor nos últimos dois anos, e agora os
concorrentes tentam pegar carona nessa onda: Pfizer e Novartis estão desenvolvendo
drogas do tipo, e a Eli Lilly pretende começar a vender o Mounjaro (tirzepatida), seu
produto antidiabetes, como emagrecedor.

5 mil vezes mais tempo
Os hormônios estão entre as coisas mais fascinantes do corpo humano: mesmo
presentes em concentrações ínfimas, da ordem dos picogramas (trilionésimos de
grama), eles controlam várias funções do organismo. E o GLP-1, ou “peptídeo
semelhante ao glucagon-1”, é um dos mais incríveis.


Quando você come alguma coisa, os pedaços da comida vão descendo até cair no
intestino. Assim que isso acontece, o corpo começa a liberar GLP-1, que atua sobre
vários órgãos (ele tem esse nome porque sua molécula é parecida com a de outro
hormônio, o glucagon, embora sua função seja diferente).


O GLP-1 manda o pâncreas aumentar a produção de insulina – porque você acabou de
comer, e o nível de glicose no seu sangue vai aumentar. Diz para o estômago segurar
um pouco os alimentos que ainda estiverem dentro dele, pois isso gera a sensação de
saciedade.


Também penetra no cérebro e vai até o hipotálamo, onde se conecta a receptores
específicos e desliga os sinais de fome. Resumindo: esse hormônio ajusta o corpo para
a digestão, e faz você parar de comer.


O corpo produz duas ondas dele, 15 e 30 minutos após a refeição. Mas o GLP-1 dura
pouco. Sua “meia-vida” é de apenas 120 segundos, ou seja, dois minutos depois que
ele é liberado, metade já se decompôs (o processo continua até que, em 30 minutos,
99% já sumiu).
Isso acontece porque, logo depois de soltar o GLP-1, o organismo também libera a
arqui-inimiga dele: a dipeptidil peptidase-4, uma enzima que quebra as moléculas
desse hormônio. O Ozempic e similares são versões artificiais do GLP-1, com uma
diferença: suas moléculas foram alteradas em laboratório, e por isso resistem à ação da
enzima destruidora.

super interessante

https://super.abril.com.br/saude/o-outro-lado-do-ozempic/

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