Justiça gasta R$ 11 mil por dia para manter obra parada há quase nove anos em Brasília e que já consumiu mais de R$ 500 milhões dos cofres públicos

Construção da nova sede do Tribunal Regional Federal da 1ª Região foi iniciada em 2007

Paradas há quase nove anos, as obras da nova sede do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), na região central de Brasília, já resultaram em um gasto de R$ 37 milhões só para manter o que já foi construído ao longo de todos esses anos —ou seja, um custo diário médio de cerca de R$ 11 mil.

O projeto, feito pelo arquiteto Oscar Niemeyer, foi planejado para uma área de 57,6 mil metros quadrados, com três pavimentos sobre pilotis e subsolo, no Setor de Administração Federal Sul.

A construção inclui gabinetes de 350 metros quadrados para desembargadores e uma área destinada ao presidente de quase o dobro, 615 metros quadrados.

Ao todo, o prédio já consumiu R$ 547 milhões dos cofres públicos. Segundo o tribunal, o término da obra está previsto para novembro de 2030. Até lá, o custo subirá para R$ 1,4 bilhão, mais do que o dobro do previsto quando o projeto foi iniciado.

Todos os recursos são oriundos do orçamento da União, conforme limites fixados pelo Conselho da Justiça Federal (CJF), de acordo com o órgão.

O objetivo do projeto era comportar a ampliação do tribunal de 27 para 51 membros e o grande volume de processos na Justiça Federal de 1º Grau. Porém a expectativa não se confirmou, e o tribunal conta com 26 integrantes.

Irregularidades

Em 2008, o Ministério Público Federal no Distrito Federal chegou a ajuizar uma ação civil pública pedindo a suspensão da construção.

Para o procurador da República Rômulo Moreira Conrado, ela é um “atentado ao princípio da economicidade”. Na ocasião, a obra estava orçada em R$ 480 milhões, com previsão para terminar em 2015.

O TCU (Tribunal de Contas da União) chegou a constatar sobrepreço e, em 2009, o TRF-1 anulou uma licitação depois de constatadas irregularidades na execução.

Desde então, diversos contratos já foram interrompidos. O primeiro foi firmado com o consórcio das empresas Via Engenharia, OAS e Camargo Corrêa, em 2007.

Segundo o tribunal, o último foi celebrado em 2013, com a construtora LDN Ltda, para a proteção de estruturas e execução de serviços de drenagem de águas pluviais. Os serviços foram finalizados em outubro de 2014.

Encerrado o contrato, o objetivo passou a ser a atualização tecnológica e normativa dos projetos, respondeu o órgão.

Para a conservação dos prédios já construídos, por exemplo, surgiu a necessidade de fechar um contrato para a recuperação e restauração de estruturas de concreto em 2014, por R$ 9,9 milhões. Logo em seguida, foi feita uma atualização do projeto por R$ 571 mil.

Em 2015, foi firmado um contrato para a fiscalização da atualização dos projetos por R$ 205 mil. Outros R$ 2 milhões foram gastos num novo contrato para a fiscalização da recuperação de estruturas.

Já em 2016, o tribunal desembolsou R$ 284 mil em instalações provisórias para a fiscalização e recepção de visitantes no canteiro de obras, mais R$ 10 milhões na revisão técnica, atualização tecnológica e normativa dos projetos de arquitetura e de engenharia.

Obras da nova sede do TRF-1 estão paradas há quase nove anos em Brasília

Parte do novo prédio do TRF-1, que inclui gabinetes de 350 metros quadrados para desembargadores e uma área de 615 metros quadrados para o presidente do tribunal, já foi construída; os custos de manutenção diários são de R$ 11 mil
Os prédios da nova sede do TRF-1, em Brasília, cujas obras estão paradas há quase nove anos – Pedro Ladeira/Folhapress

Outros R$ 358 mil foram gastos na perícia de elementos estruturais de concreto e serviços acessórios para determinação das causas de fissuras progressivas em pilares e blocos de fundação na nova sede.

O tribunal desembolsou mais R$ 2,2 milhões para o “assessoramento do recebimento da revisão da atualização e da complementação dos projetos”.

Já entre 2020 e 2021, foram gastos R$ 860 mil para revisão e atualização tecnológica, remoção de restos de vegetação e eventuais entulho e manutenção e limpeza das fachadas.

Ainda há dois contratos em aberto de 2022 que preveem a elaboração de projetos de atualização de arquitetura e engenharia e de assessoramento técnico para análise e avaliação destes projetos.

A construção da nova sede do TRF-1 chegou a ser incluída no projeto Destrava, programa que prevê a atuação integrada entre os órgãos de controle e o Poder Judiciário para viabilizar a conclusão de obras que estão suspensas, mas não vingou.

Ao entregar o projeto, Niemeyer chegou a dizer que qualquer projeto arquitetônico apresenta dificuldades em sua idealização e concretização, “porém a nova sede do TRF dispõe de uma criatividade ímpar”.

Ele ainda agradeceu a possibilidade de criar a nova sede para o tribunal “de maneira livre” e disse que, ao imaginar o prédio, quis aliar “uma arquitetura funcional e moderna, ao mesmo tempo”.

“Esse projeto foi criado com carinho e dedicação da minha equipe e terá inquestionavelmente uma grande importância para Brasília.”

Para o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB, Frederico Flósculo, o episódio mostra o colapso da falta de planejamento do tribunal e que o Poder Judiciário tem os edifícios mais caros e mais difíceis de se manter do país.

“O Judiciário sempre se mostrou bom em manter suas mordomias e privilégios, uma aristocracia só no campo da arquitetura que não se entende nos termos de construção de seus prédios. É tudo descoordenado”, afirma.

A assessoria de imprensa do TRF-1 respondeu que a obra está parada “por diversos problemas que levaram à rescisão do contrato com empresas executoras” e que houve a necessidade de atualização tecnológica e normativa dos projetos, etapa atual.

Também afirmou que há custos com a manutenção do canteiro de obras e vigilância do local e que o valor estimado “vem aumentando em proporção aos índices de construção civil”.

“Devido ao tempo transcorrido entre a elaboração do projeto e o retorno da obra, os projetos originais precisaram de revisão para se adequar às atualizações normativas, às novas tecnologias de sistemas e aos materiais disponíveis no mercado”, disse.

Também respondeu que, atualmente, há dois contratos em execução, mas não informou os valores. Um trata da prestação de serviços técnico-profissionais para elaboração dos projetos básicos e executivos, remanescentes de arquitetura e engenharia.

E outro para a prestação de serviços de assessoramento técnico à fiscalização para avaliação dos projetos básicos e executivos. Disse ainda que a nova sede tem o objetivo de oferecer infraestrutura adequada para todos os setores do órgão e otimizar a prestação de serviço à sociedade.

fonte: folhapress

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