Quem é Domingos Brazão, homem acusado de mandar matar Marielle Franco

O político Domingos Brazão, em imagem de entrevista à TV Globo, quando prestou depoimento...

A Procuradoria-Geral da República afirmou, em denúncia enviada ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), que o ex-deputado e conselheiro afastado do TCE-RJ (Tribunal de Contas do Rio) Domingos Brazão arquitetou a morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes em março de 2018.

Segundo documento obtido com exclusividade pelo UOL, Brazão “arquitetou o homicídio da vereadora Marielle Franco e, visando manter-se impune, esquematizou a difusão de notícia falsa sobre os responsáveis pelo homicídio”.

A denúncia foi assinada pela então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, antes de deixar o cargo, em setembro. Dodge acusa Brazão e outras quatro pessoas de participação em esquema de obstrução da investigação. No mesmo mês, Dodge pediu a federalização das investigações sobre o caso. 

Além da denúncia da PGR, o caso Marielle teve outros desdobramentos nesta quarta-feira (30). Reportagem do Jornal Nacional apontou que nome do presidente Jair Bolsonaro surgiu nas investigações sobre a morte da vereadora. Em depoimento, porteiro do condomínio de Bolsonaro afirmou que Elcio Queiroz, acusado de matar a vereadora, buscou o presidente no dia do crime. Em resposta, Bolsonaro atacou a TV Globo e o governador Wilson Witzel.

UOL também obteve com exclusividade áudio de uma conversa que faz parte da denúncia de Dodge em que o miliciano Jorge Alberto Moreth afirma ao vereador Marcello Sicilliano (PHS) que Domingos Brazão é o mandante do crime e pagou R$ 500 mil pelo atentado contra Marielle e Anderson.

Para a então procuradora-geral da República, arquivo de áudio é “a prova mais importante”, até o momento, do envolvimento de Brazão como “arquiteto do atentado” e que pode responder à pergunta “quem mandou matar Marielle?”.

Em fevereiro deste ano, Brazão ― que foi posto no centro do caso Marielle Franco pela PGR ― foi alvo de uma operação da Polícia Federal que apurava tentativas de atrapalhar a elucidação do homicídio de Marielle e Anderson.

O caso Marielle Franco

A vereadora foi assassinada junto com seu motorista, Anderson Gomes, em 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro, após sair de um evento público. A investigação está sob sigilo e as principais linhas de apuração apontam para a participação de milícias ou, ainda, para um crime político.

Até o momento, dois suspeitos de envolvimento no crime foram detidos, mas os motivos dos assassinatos não foram esclarecidos. O sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa e o ex-PM Elcio Vieira de Queiroz foram presos em março de 2019 por envolvimento no crime.

Mulher negra, nascida na Favela da Maré, lésbica e defensora dos direitos humanos, Marielle foi a 5ª vereadora mais votada do Rio em 2016. Ela denunciava abusos da Polícia Militar, atendia vítimas da milícia e dava apoio a policiais vitimados pela violência no Rio e às suas famílias.

Segundo reportagem da Agência Pública, Brazão pavimentou sua trajetória política no subúrbio do Rio de Janeiro ― e chegou a ser campeão de votos em Rio das Pedras, uma das maiores favelas da capital carioca, em 2006.

A comunidade é tida como berço de uma das mais antigas milícias do Rio, que atua desde os anos 1970 na região ― e tem a família Brazão como destaque entre os campeões de votos na região. Não só Domingos, mas seus irmãos Chiquinho e Pedro tiveram votos significativos na região nas últimas eleições.

Atualmente, Chiquinho Brazão é deputado federal pelo Avante, e Pedro Brazão, deputado estadual pelo PL. Segundo o Estadão, o político chegou até a emprestar seu sobrenome para pessoas sem parentesco e que desejavam concorrer a cargos públicos no Rio, devido à sua influência

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