O menino sem máscara e a cantora baiana de axé

Claudia Leitte se apresentou no sábado (27), no Espaço das Américas, em São Paulo.


Este é o Admirável Mundo Novo: crianças são expulsas da escola, criminosos são colocados em liberdade e multidões se aglomeram no show da Cláudia Leitte

Quando vi aquela multidão dançando na apresentação de uma cantora de axé, em um carnaval fora de época promovido pelo governador de São Paulo, lembrei-me imediatamente de uma passagem de “Admirável Mundo Novo”, em que Aldous Huxley descreve uma espécie de bacanal dançante, numa Abadia de Westminster transformada em boate. Como diz meu amigo Silvio Grimaldo, atualmente se tornou redundante ler romances como “1984”, “Admirável Mundo Novo” ou “Fahrenheit 451”: as distopias acontecem diante de nossos narizes – estejam ou não eles cobertos por máscaras.

Precisamos guardar bem guardadas as imagens da multidão frenética pulando no show da Cláudia Leitte. Elas devem ser mostradas quando, a pretexto de combater a nova onda da gripe chinesa (com uma variante que nunca receberá o nome de Xi), as autoridades vierem de novo fechar os comércios e trancafiar as crianças em casa.

Muita gente na direita ficou revoltada com o show da Cláudia Leitte, mas vi relativamente poucos indignados com o que aconteceu no Colégio José de Anchieta, em Porto Alegre, onde a polícia foi chamada para gentilmente retirar da escola um menino de sete anos que se recusou a usar máscara. Enquanto o braço armado do Estado era posto em ação para expulsar uma criança da sala de aula, o braço jurídico conhecido como STJ concedia liberdade ao traficante Gordão, parceiro daquele André do Rap que o STF também soltou. É o nosso tempo: crianças são expulsas da escola, criminosos são soltos da cadeia.

A pandemia foi usada para controle social de diversas maneiras, mas creio que três instituições foram os alvos prioritários do sistema: a família, a religião e as pequenas empresas. Das famílias, dos fiéis/sacerdotes e dos empresários/trabalhadores, exige-se obediência absoluta. Qualquer coisa menos que uma submissão completa às normas sanitárias é vista como crime.

E alguém pode perguntar: mas e a cultura? Por que a cultura não foi alvo da pandemia? A resposta é muito simples. A cultura foi substituída pela indústria do entretenimento, e esta encontra-se totalmente dominada pelo sistema. A única esperança das famílias, das igrejas e das pequenas empresas acha-se na cultura clandestina do cristianismo, que mantém viva e acesa a chama da luta pela liberdade.

Voltamos às catacumbas.

 Paulo Briguet é cronista e editor-chefe do BSM.

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