Exclusivo: Como Ilhas políticas formadas no governo Rui Costa ( PT- Bahia) e o Orçamento Secreto bilionário na mão do Centrão ajudam a entender movimento de desembarque de Marcelo Nilo

Os recentes movimentos do coordenador dos deputados federais e senadores da Bahia, Marcelo Nilo (PSB), que vão de críticas à inabilidade política de Rui Costa (PT), passando por encontros com ACM Neto e com caciques do grupo adversário ao seu e até queixas contra o pré-candidato Jaques Wagner (PT), são partes de um processo de reconfiguração política no país que afeta o modo de relacionamento político no estado, tornando o cenário adverso para parlamentares não alinhados ao governo federal e que não encontram guarida no governo estadual, ao qual fazem parte da base.

O exemplo de Nilo é emblemático.

Apesar do conhecido jogo de cena eleitoral do cacique do PSB, que costuma se manifestar às vésperas de pleitos em busca de mais espaço e respostas para suas demandas, as queixas recentes do ex-presidente da ALBA não podem ser explicadas apenas como uma busca pela ampliação de sua zona de influência.

Centrão

Com a consolidação das Emendas de Relator no governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), o chamado Orçamento Secreto, parlamentares aliados na Bahia passaram a ter acesso direto a valores astronômicos de emendas parlamentares. Estamos falando de bilhão repartido.

Esses valores são aplicados de duas formas.

1º: o parlamentar nominalmente escolhe o município ou aloca recurso em uma empresa pública, a exemplo da Codevasf, mais utilizada no estado. Esse método facilita o rastreio, já que há o nome do político na indicação.

2º: o prefeito, apadrinhamento e a mando do deputado federal ou senador, solicita de forma direta os recursos ao relator do Orçamento. Menos transparente, esse modo ‘esconde’ o parlamentar que está na prática aplicando o recurso.

Com milhões alocados ou disponível, os deputado federais da Bahia passaram a depender menos do governo da Bahia, mesmo integrando partidos da base grande parte deles, e passaram a dialogar diretamente com prefeito e a avançar sobre redutos eleitorais alheios.

A prática está sendo praticada principalmente por parlamentares dos partidos do chamado Centrão, especialmente os vinculados ao PP e PSD.

Com recurso em menor escala e sem apoio do governo Rui Costa (PT) para atender aos pedidos dos prefeitos, parlamentares como Marcelo Nilo (PSB) ficam encurralados e muitos tem sofrido baixas difíceis de recuperar em um ano eleitoral, o que acaba por tornar mais difícil à reeleição.

Política

Um parlamentar federal, ouvido em anonimato pelo OFF News, aponta que o contraponto ao avanço do Centrão não está sendo feito como deveria.

Ele explica que uma melhor repartição das assistências do governo Rui Costa (PT), através de entregas e obras poderia criar um escudo frente à voracidade dos parlamentares do Centrão.

O político lamenta que o governo Rui Costa tenha criado diversas ilhas de poder, onde os caciques mais próximos do governador conseguem fazer suas demandas andar e os mais distantes, a exemplo de Nilo, sofrem e muito para conseguir algo, quando seus pleitos não são engavetados.

“A ação institucional e governamental deixa a desejar. É precisar quebrar as ilhas. Temos visto um esforço grande de Caetano para quebrar essas ilhas, mas cada secretário e deputado vão criando resistência; Isso está errado! Na hora da ação política o cara não quer saber de dificuldade, o cara quer ter seus pedidos atendidos, quer ver acontecer as coisas na base dele. Executar algo nunca foi tão valioso como hoje em dia e é preciso que o governo passe a executar desde agora. Em um cenário desse, uns tentam se virar, mas outros, como Marcelo, que são mais emotivo, chutam o pau da barraca”, pontua o político que segue no raciocínio:

“Os que não estão dentro das ilhas sofrem, mas são poucos os que demonstram indignação. Para você ter ideia, eu não tenho mais um prefeito comigo, oficialmente. Gente que a gente ajudou financeiramente a se eleger, dando estrutura, e que acabaram na boca das eleições recebendo um deputado federal desse da vida, com milhões em emendas, e firmando acordo para injetar R$10 milhões na cidade. A minha cota anul é de R$ 16 milhões, não posso botar R$10 milhões em apenas um município, como vou disputar de igual em um cenário desse?”, criticou a fonte.

Há também os que acredite que para além da insatisfação, Nilo procura um álibi para sair.

Para esses, a análise é de que não há chance do deputado federal do PSB sair ao Senado Federal pelo grupo e que para realizar o sonho e facilitar sua saída, ele tem buscado o atrito público, na imprensa, em busca de uma resposta mais dura do senador do PT, Jaques Wagner, para que possa sair como ‘vítima’:

“Marcelo Nilo quer provocar uma briga a qualquer custo para justificar sua saída. Jaques Wagner não vai entrar nessa, principalmente por conta do seu estilo apaziguador”, afirmou outro quadro de Brasília ao site, também sob anonimato.

Criticas

Em entrevista ao Política Livre, no último domingo (30), o deputado federal Marcelo Nilo (PSB) reclamou das declarações de Jaques Wagner, destacou força própria na manutenção da presidência da ALBA em resposta ao críticos e exaltou ex-prefeito de Salvador, chegando a afirmar que “se colocar Wagner com apoio de Lula e ACM Neto sem apoio de ninguém, você pode ter certeza que ACM Neto está muito na frente”.

Ele também reclamou do comportamento do PT, que segundo ele só o partido quer indicar o candidato a cabeça de chapa.

OFF News procurou parlamentares petistas e membros do governo para saber das reações que os ataques de Nilo na entrevista causaram aos membros do grupo PT-PP-PSB.

O deputado federal Zé Neto (PT) evitou colocar mais gasolina no incêndio e não apontou a entrevista como um ataque em busca de um álibi para uma eventual saída ou como um movimento de desembarque em grande estilo por parte do coordenador da bancada de parlamentares federais da Bahia.

Zé Neto admite, como informou um fonte em anonimato ao OFF News, que está ocorrendo avanço de parlamentares do Centrão sob bases eleitorais de colegas.

“Eu acho que nessa hora, eu que já fui oito anos líder de governo, que já sentei em várias situações para resolver atritos, inclusive com Marcelo, acho que é o momento de ser mais bombeiro do que ‘frentista’. Vivemos um momento de turbulência grande, a situação política do país do não é boa, especialmente em relação às disputas sendo feitas com o Centrão, que está deixado todo mundo à flor da pele, principalmente com alguns fatos que estão acontecendo interior. O Marcelo Nilo já tinha conversado comigo. Essa moeda de troca política passou a ser emenda, e nós da esquerda ainda não demos conta desse problema. Essas coisas todas estão criando um clima tensão muito grande. Marcelo sempre foi e será um companheiro valioso, acredito que neste momento temos que afinar mais ao diálogo político para contornar eventuais dificuldades. Nós conversamos com adversário e temos paciência, porque não havemos de ter paciência e dialogar com um dos nossos companheiros?”, questionou Zé Neto.

Outro nome forte do partido, que atua em uma pasta próxima ao governador, pontua ao OFF News que a tática de Wagner é mesmo a de evitar que o caldo transborde.

A fonte crê que apesar do movimento agudo, Marcelo Nilo não irá deixar o grupo e aponta que os prefeitos com quem tem mantido diálogo, que fazem parte do grupo do ex-presidente da ALBA, não tem tratado a ida do político ao grupo de ACM Neto como um martelo batido: “essa questão [Nilo], tanto o Wagner como o governador tem evitando falar nas reuniões, tão tratando internamente, mas alguns prefeitos com quem conversei, prefeitos ligado a Nilo, me garantem que ele não bateu martelo. Isso que Marcelo está fazendo faz parte do jogo, é uma tática de Valorização. Eu acho que no fundo vai se chegar a um entendimento e ele vai ficar”.

offnews.c

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