Especialista Explica o Acordo do Vaticano com a China Comunista

Steven Mosher[1]: “Essa é a receita para a eliminação da Igreja Católica e não para tolerá-la”

FRONT ROYAL, Va. (ChurchMilitant.com) – Uma entrevista exclusiva com o especialista em cultura chinesa lança algumas luzes sobre o porquê dos prelados do Vaticano estarem comprometidos com o governo comunista da China às custas da Igreja.

Steven Mosher é católico e presidente do Population Research Institute que estuda e trabalha na China desde 1976. Em 1979, ele foi o primeiro americano na China depois que os EUA normalizaram relações diplomáticas com o governo chinês e que passou décadas no país, vivendo e trabalhando com o povo chinês.

“Eu basicamente passei minha vida estudando a China”, disse ele.

Mosher viajou à Roma no início de julho para conversar diretamente com os prelados do Vaticano “para descobrir o que essas autoridades estavam pensando que a Igreja iria ganhar se assinassem um acordo com o Partido Comunista Chinês”.

Ele disse buscar que eles “entendam a natureza do regime com o qual estão lidando” e que propósito deles é oposto a tudo o que a Igreja Católica defende.

O Vaticano se comunica com o governo chinês desde 2005, quando o desacreditado ex-cardeal Theodore McCarrick viajou para a China para se encontrar com autoridades do Partido Comunista pela primeira vez. Mosher explicou que McCarrick mencionou pontos em comum entre o Papa Francisco e o presidente da China, Xi Jinping, e sua preocupação com questões sociais.

“Eu não vejo nenhum ponto em comum entre a Igreja Católica e o Partido Comunista Chinês”, observou Mosher.

Ele disse que algumas autoridades da Igreja, que estão relutantes em falar sobre a moralidade pessoal, são persuadidos pelas alegações do Partido Comunista de que fizeram grandes progressos nas políticas sociais.

“Torna-se desconfortável para eles falarem sobre moralidade pessoal se eles mesmos não vivem esses mandamentos”, disse ele, acrescentando:

É muito mais fácil falar sobre o ensino social da Igreja, porque isso não é uma obrigação individual, é uma obrigação comunitária, uma obrigação social em que não cria uma espécie de dissonância cognitiva em suas mentes, pois essa espécie de conflito ocorreria, por exemplo, se tratassem sobre a necessidade de se evitar o comportamento homossexual.

Mosher explicou que, se um bispo ou padre “não está vivendo a Fé no tocante à moralidade pessoal, ele vai querer se esquivar dessa pergunta e seguir adiante em uma conversa que não seja conflitiva … que não coloque exigências à sua consciência ou comportamento pessoal”.

Ele afirmou que a recente declaração do Card. Blase Cupich sobre “não vou entrar nesta história sem fim” é um exemplo de uma tentativa desesperada de mudar o assunto para longe da moralidade pessoal por causa de conflitos internos.

Mosher disse que Jinping é o novo “Imperador Vermelho” que tem “mais poder que Mao Zedong”. Jinping tem o controle do governo e dos militares, algo que Mao Zedong não tinha. Usando o disfarce de uma “campanha anticorrupção”, Jinping está expurgando seus inimigos do Partido Comunista. Mais de 1,5 milhão de funcionários do governo nos últimos cinco anos foram acusados de corrupção – mas nem um dos apoiadores de Jinping, explicou Mosher.

Em janeiro, depois que o Vaticano pediu a dois bispos legítimos que se demitissem, os bispos da Igreja Patriótica puderam então ser instalados. O prelado do mais alto escalão da China, Card. Joseph Zen, criticou o Vaticano por “vender-se” e ceder às exigências dos líderes comunistas. Cardeal Zen escreveu uma carta aberta à mídia, dizendo que o papa Francisco “não conhece os comunistas chineses” e “as pessoas ao seu redor não são nada boas”. Ele criticou o Vaticano dizendo: “Eles têm ideias muito erradas”.

“O Cardeal Zen é exatamente o tipo de pessoa que o Vaticano deveria confiar para obter informações.”

Mosher concordou com a avaliação do Card. Zen de que o Vaticano não entende o Partido Comunista. Ele explicou que a China, que é apresentada aos visitantes ocasionais e diplomatas, não é a mesma China que os fluentes da língua veem. Essas pessoas são atendidas por uma delegação de funcionários que os reúne em restaurantes de cinco estrelas para tomar um vinho e os deixam “muito satisfeitos com a China”. Isso porque, segundo Mosher, são ou seguidos ou acompanhados em todos os lugares, motivo pelo qual esses visitantes nunca encontram pessoas comuns ou aqueles na Igreja clandestina.

“O Cardeal Zen é exatamente o tipo de pessoa que o Vaticano deve confiar para obter informações e formular estratégias sobre como lidar com o Partido Comunista”, disse Mosher.

Além disso, devido à barreira do idioma, a maioria dos visitantes não tem ideia do que realmente está acontecendo e só sabe o que os “observadores” do governo estão lhes dizendo.

“Eles não viram a verdadeira China”, disse ele. “Eles viveram em uma espécie de realidade alternativa” durante a viagem, e observa que esse é um fenômeno comum com muitos visitantes que voltam “cantando loas ao regime”.

Um exemplo disso foi em fevereiro de 2018, quando Arceb. Marcelo Sanchez Sorondo, chanceler da Pontifícia Academia de Ciências Sociais, elogiou o Partido Comunista por não ter favelas, seu baixo uso de drogas e uma “consciência nacional positiva”. O Arcebispo Sorondo disse: “No momento, aqueles que melhor implementam a doutrina social da Igreja são os chineses”.

Mosher disse que passou quatro horas com Arceb. Sorondo, durante sua visita, discutindo as “discordâncias fundamentais” que o Partido Comunista e a Igreja Católica têm em questões de direitos humanos como o aborto, a esterilização forçada e a pobreza. Mosher disse que precisou explicar para Arceb. Sorondo a razão pela qual não há favelas fora de Pequim é que as pessoas não estão autorizadas a viver nelas. Os controles internos de passaportes instituídos pelo Partido Comunista forçam cerca de um milhão dos mais pobres de Pequim a viver em porões abarrotados com cinco a dez outras pessoas ou em moradias mais antigas que o Partido Comunista está demolindo rapidamente.

Igreja de Golden Lampstand em Linfen Demolida

Igreja de Golden Lampstand em Linfen Demolida

No outono passado, disse Mosher, o governo da cidade de Pequim considerou que havia muitas pessoas vivendo na cidade e sumariamente despejou três milhões de pessoas que haviam imigrado para lá trabalhar, mas que não tinham a documentação apropriada.

“Eles foram basicamente jogados na neve no meio do inverno”, disse Mosher.

O arranjo que o Partido Comunista quer com a Igreja Católica é um “carimbo” de quem o Partido escolhe para ser o bispo, explicou Mosher. O Partido disse abertamente na mídia que não quer o “modelo Viet Nam”, onde a escolha final para o bispo é deixada para o Vaticano e respeita a autoridade do Magistério. O proposto “modelo chinês” deixa a escolha final para o Partido Comunista, e se o Vaticano não aprovar, eles podem vetar o candidato.

Mosher observou que o Card. Zen se perguntou quantas vezes o Vaticano poderia vetar um candidato antes que o Partido eventualmente ordenasse seu candidato, sobrepondo-se à autoridade do Magistério.

“Ao final e ao cabo, o Partido é que decidirá quem será o bispo”, disse ele..

“O Partido Comunista é oficialmente ateísta”, explicou Mosher. “Sua política atual é eliminar gradualmente a Igreja Católica ao longo do tempo.”

Em fevereiro, Jinping instituiu uma nova política que torna ilegal levar crianças à Missa. Ela força todos os católicos, mesmo os que vão à Igreja clandestina, a se registrarem junto ao governo e torna as atividades paroquiais como reuniões de oração e catequese ilegais. Ele disse: “Eles querem limitar a Igreja Católica à celebração da Missa Dominical”.

“O Partido Comunista Chinês quer ser tudo para todas as pessoas”, disse Mosher. Eles se sentem “quase insultados” pela Igreja Católica estar preenchendo as necessidades não satisfeitas do povo chinês, porque o Partido deveria atender todas as necessidades do povo “na jornada rumo ao paraíso socialista”.

“Essa é a receita para a eliminação da Igreja Católica, e não para tolerá-la”, explicou Mosher.

Mosher disse que há muito mais sobre o assunto em seu livro, The Bully of Asia[2].

Church Militant  12 de setembro de 2018

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