Oposição boicota eleições na Venezuela e denuncia fraude

 (crédito: Cristian Hernandez/AFP)

Cerca de 20,7 milhões de cidadãos escolhem, hoje, 277 deputados da Assembleia Nacional entre 14.400 candidatos. Oposição boicota o pleito, denuncia fraude e organiza plebiscito paralelo. Juan Guaidó fala ao Correio e afirma que “desnudou” o regime

Para o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, as eleições legislativas de hoje serão “muito importantes”. “Somente vocês têm o poder! Chegou a hora! Vamos às ruas, fazer justiça e votar!

Eu os espero em Miraflores para celebrar a vitória popular”, declarou. “Nós diremos ao mundo, por meio do voto, que somos uma Pátria livre e soberana.

O povo recuperará, legitimamente, a Assembleia Nacional”, acrescentou o mandatário. Para a oposição, que decidiu boicotar a eleição e viu Maduro nomear interventores para os principais partidos, a votação de hoje não passa de uma fraude, uma manobra determinada a recuperar a maioria parlamentar para o Palácio de Miraflores.

Cerca de 20,7 milhões de venezuelanos recorrerão a 14 mil seções eleitorais para escolher 277 deputados da Assembleia Nacional entre 14.400 candidatos.

Nas últimas eleições, 167 cadeiras tinham sido renovadas.

Os vencedores do pleito legislarão entre 2021 e 2026.

Em julho passado, o Tribunal Supremo de Justiça suspendeu a diretoria do Voluntad Popular — partido de Juan Guaidó (leia Quatro perguntas para), presidente autoproclamado da Venezuela, e do líder opositor Leopoldo López, hoje exilado em Madri. Para especialistas, esse teria sido o primeiro passo para minar a influência da oposição. Para Antonio Ledezma, prefeito de Caracas preso em 2015, foragido e exilado em Madri desde novembro de 2017, as eleições de hoje são uma “fraude monumental”. “Temos visto fraudes continuadas na Venezuela, como a eleição montada por Maduro para se reeleger, em 20 de maio de 2018. Esta última foi tão descarada, que mais de 60 países desconhecem Maduro como líder e optaram por reconhecer a legitimidade de Juan Guaidó, a partir de 23 de janeiro de 2018”, afirmou.

Vício

Ledezma classifica as eleições de hoje como “a mãe das fraudes”. “Maduro passa por cima da Constituição Nacional, ao abandonar o princípio de votação universal, secreta e direta. Ele pré-elegeu pelo menos metade dos 277 membros dessa Assembleia Nacional irregular, com leis e regulamentos. Ao mesmo tempo, não há garantias na Venezuela, não se permite o trabalho de observadores eleitorais qualificados. O registro eleitoral permanente está viciado, controlado por emissários políticos a serviço de Maduro”, denunciou. “Essa Assembleia Nacional será ignorada não apenas pelos venezuelanos, mas também pela comunidade internacional. Maduro quer tomar de assalto a Assembleia, a única instituição legítima, eleita por mais de 14 de milhões de venezuelanos em 2015.”

José Vicente Carrasquero Aumaitre, professor de ciência política da Universidad Simón Bolívar (em Caracas), aponta uma série de fatores que indicariam a ilegitimidade das eleições de hoje. “A forma como se escolheu o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), o confisco de dirigentes dos partidos da oposição, a impossibilidade de se increver candidatos adversários de Maduro, a não atualização do registro eleitoral permanente e a não apresentação do novo equipamento para votação não nos permitem dizer que o evento de hoje será um processo democrático”, declarou ao Correio.

O cientista político venezuelano também coloca em xeque a presença de observadores internacionais. “São um conjunto de amigos que comparecem, como acompanhantes, de acordo com o regulamento do CNE. Ou seja, nem mesmo eles estariam na condição de denunciar irregularidades. Maduro criou um evento sob medida, a fim de controlar a Assembleia Nacional e, assim, ter total domínio das instituições do Estado”, disse Aumaitre.

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