Fiasco governista nas urnas enfraquece esquerda e escancara crise política na Argentina; entenda

A semana política na Argentina, que começou com uma derrota avassaladora da coligação governista nas urnas das eleições primárias, foi conturbada para o presidente Alberto Fernández, que assumiu o cargo no fim de 2019 tendo como vice Cristina Kirchner. Além de lidar com a evidente insatisfação com a condução do país e com o crescimento dos números da oposição, o presidente sofreu um revés dentro do próprio mandato com a demissão em massa de ministros de cargos-chave dias após o fiasco eleitoral. Ao contrário das eleições no Brasil, que costumam se dividir entre federais e municipais, a Argentina escolhe parte dos seus deputados e senadores no meio do mandato presidencial. “Tivemos as eleições para presidente em 2019 e agora teremos as eleições para os deputados. Essas primárias seriam um ‘primeiro turno’ e eles vão ser eleitos mesmo em novembro”, simplifica a professora da Universidade Federal de São Paulo, Regiane Nitsch Bressan.

Nas primárias, cada eleitor tem direito a votar em uma pessoa; os mais bem votados de cada coalizão estarão nas cédulas para as eleições gerais, que renovam metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado. Com isso, as eleições de “meio de mandato” funcionam como um termômetro de aprovação ou reprovação dos dois primeiros anos da presidência. “Aqui no Brasil você ‘passa um cheque’ para quatro anos de mandato e você só vai poder aprovar ou reprovar aquele mandatário quando [o mandato] termina. Um mecanismo de eleições intermediárias, como tem na Argentina, como tem nos Estados Unidos, permite que você avalie o humor do eleitorado. Agora, claramente, a gente percebeu que o eleitorado que deu a vitória ao Fernández nas eleições já não está mais olhando para ele da mesma forma que olhava ali no começo do mandato”, explica o docente Leandro Consentino, professor de Ciência Política e Relações Internacionais do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).

Nas primárias, o grupo político Juntos pela Mudança, liderado pelo ex-presidente de direita Maurício Macri, ganhou 41,50% dos votos, ficando acima da Frente de Todos, atual coligação governista. Quando olhamos para os 24 distritos do país, é possível ver que os apoiadores de Fernández ganharam em apenas seis deles, o que sinaliza o enfraquecimento do presidente e um resto de mandato conturbado para a esquerda. “O presidente perdeu muitos votos e agora a grande porcentagem é de direita ou centro-direita. A tendência a partir dos resultados desta semana é que o governo detenha uma minoria no parlamento. Isso vai dificultar muito a governabilidade, então tudo indica que haverá dificuldades internas de governança”, analisa Bressan. Ela lembra que a tendência mostrada nas urnas nesta semana só vai se confirmar após as eleições de novembro.

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