A petulância dos revolucionários da linguagem… Movimentos querem mudar a língua portuguesa em prol de uma minoria

Foto: Reprodução/Redes sociais

Por Gabriel Kanner (*)

Dois anos atrás é provável que você nunca tinha ouvido falar em linguagem neutra. Aos poucos, esses pequenos ataques à língua portuguesa foram se tornando cada vez mais frequentes, e agora há um enorme esforço para fazer com que essa variação do nosso idioma se normalize em nossa cultura. Quanto mais reflito sobre o tema, mais me impressiona o atrevimento dos defensores desta agenda, mascarada sob o eufemismo da “inclusão”. Para ilustrar esta petulância, vale um exercício.

Imagine que exista um movimento político que represente 0,6% da população. Após alguns anos fortalecendo sua militância, o movimento decide que a bandeira nacional deve ser reformulada, passando a adotar o branco e o vermelho como cores principais. A nova bandeira passa a ser vista em diferentes portais na internet e nos jornais. Inicia-se uma pressão cada vez maior para que todo o país adote o novo padrão. Quem se recusar a aceitar a mudança é taxado de preconceituoso e intolerante. Se há pessoas que se sentem representadas pela bandeira branca e vermelha, como pode alguém negar a elas o direito à inclusão?

Embora esse exercício pareça totalmente distópico, é muito similar com o movimento que estamos presenciando acerca da linguagem neutra. Assim como nossa bandeira, a Língua Portuguesa é um dos pilares da nação. É o que nos une como povo. É que nos torna brasileiros. A tentativa de reformular um pilar nacional para atender a uma pequena parcela da população é de um atrevimento ímpar. De acordo com o Williams Institute, 0,6% da população nos EUA se identifica como transgênero. Podemos considerar que o número no Brasil seja próximo disso. Mesmo com essa baixa representatividade, diversos setores da sociedade passaram a defender essa agenda nos últimos meses.

Gabriel Kranner: “A tentativa de reformular um pilar nacional para atender a uma pequena parcela da população é de um atrevimento ímpar” | Foto: Divulgação

O mais novo agente a embarcar na revolução linguística é a Rede Globo. Claudia Souto, autora da nova novela “Cara e Coragem”, com estreia marcada para maio de 2022, anunciou que adotará a linguagem neutra no roteiro. Segunda ela, o público se adaptará bem à mudança. Ano passado, o tradicional colégio Franco-Brasileiro, no Rio de Janeiro, enviou um comunicado aos pais informando que passaria a adotar a linguagem neutra na escola. No texto, a direção pedagógica afirma que “a substituição da expressão ‘queridos alunos’ por ‘querides alunes’, por exemplo, passa a incluir múltiplas identidades sob a marcação de gênero em ‘e’.” Em julho deste ano, o próprio Museu da Língua Portuguesa resolveu embarcar nessa onda. Após ser atingido por um incêndio em 2015, o museu resolver ousar em sua comunicação para a reabertura. “Nesta nova fase do MLP, a vírgula — uma pausa ligeira, respiro — representa o recomeço de um espaço aberto à reflexão, inclusão e um chamamento para todas, todos e todes os falantes, ou não, do nosso idioma: venham, voltamos.”

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