COLUNA: O ‘fascismo’ da esquerda brasileira

Se tem uma coisa no gramscismo que explica a miséria intelectual no país e explicita o ataque à inteligência brasileira perpetrado pela esquerda chique, essa coisa é a definição de intelectual orgânico. Para Antonio Gramsci – o guru da esquerda brasileira desde os anos seguintes à contrarrevolução de 1964 – os intelectuais são classificados em dois grupos: orgânicos e inorgânicos. Os últimos são apegados a tradições e conhecimentos de outras épocas, sem por isso fazerem o que fazem por apego às suas respectivas classes sociais. Já os orgânicos representam os interesses das suas classes e a atividade desempenhada por seus indivíduos, contribuindo ou não para o curso da revolução.

Caso não tenha ficado muito claro, a coisa é mais ou menos assim: se você defende as pautas da revolução, logo você é um intelectual orgânico, e consequentemente o único que interessa em uma sociedade gramsciana. Não importa seu conhecimento ou qualquer outra coisa que sirva para referendar tal status. No gramscismo, um cantor de axé falando que a sua música é um grito contra o capitalismo soa mais intelectual que toda a produção do autor destas linhas. Qualquer semianalfabeto vomitando banalidades úteis ao sucesso da revolução é uma autoridade intelectual. Isso explica o porquê de Anitta, Luísa Sonsa, Felipe Neto e tutti quanti serem levados a sério quando falam sobre política ou qualquer assunto sério que exija mais de dois neurônios.

A mais nova autoridade intelectual brasileira – relevem a aparente contradição – a pontificar sobre aquilo que não conhece é o sr. Felipe Castanhari. Ele fez um vídeo sobre fascismo explicando o que – na cabeça dele – seria fascismo. Encontrei tantas inverdades e incongruências que tive o trabalho de separar as mais gritantes, no intuito de dar ao leitor uma visão mais correta sobre o tema. Também serve para mostrar a miséria brasileira e do quanto estamos distante de conhecer a realidade ao levar gente como o sr. Castanhari a sério.

No começo do vídeo, Castanhari diz que o fascismo rejeita a modernidade e por isso nos brinda com o velho endeusamento do iluminismo ao dizer que ele defendia coisas como liberdade, tolerância religiosa e pensamento científico. A pérola é maravilhosa e chega a ser engraçada, mas vamos lá. O iluminismo sepultou as bases da sociedade medieval e consagrou de vez o Estado moderno como única autoridade, dando a ele o monopólio da força. Desde então o seu tamanho só cresceu e estamos na presente situação em que você precisa da autorização do governo para reabrir os seus negócios ou voltar ao trabalho. Ao dar o poder absoluto ao Estado, o iluminismo deu aos seus donos os meios de dominar o povo e impor o que fosse conveniente aos seus interesses, além de lançar as bases para os totalitarismos do século XX – dentre eles o próprio fascismo. Falar do iluminismo como sinônimo de liberdade é fazer pouco caso da inteligência alheia.

Tolerância religiosa e iluminismo são como água e óleo, sr. Castanhari. Seus principais teóricos eram ferrenhos anticristãos e caluniaram a Igreja Católica de todas as formas possíveis. ‘’O homem só será livre quando o último rei for enforcado nas tripas do último padre’’, era uma frase muito cara a Voltaire, Diderot e tutti quanti e refletia o pensamento da elite intelectual secular.

As ideias anticristãs que começaram nos livros foram colocadas em prática pelos jacobinos na Revolução Francesa, onde o anticlericalismo levou muitos padres, bispos e freiras à guilhotina. Propriedades da Igreja foram tomadas, bens foram saqueados e o calendário dos Santos foi substituído. Inspirados nessa perseguição ao Cristianismo, os bolcheviques russos e maçons mexicanos – para ficarmos só neles – empreenderam o mesmo em seus respectivos países. Se isso for tolerância religiosa, eu sou o Felipe Castanhari em pessoa.

Já que falamos em religião, cabe mais alguns esclarecimentos. Castanhari diz que os fascistas são ultraconservadores ao citar a proibição de outras religiões na Espanha de Francisco Franco com exceção do catolicismo. Ao que parece, ele não conhece a trajetória de Benito Mussolini, o pai do fascismo. Mussolini era um Diderot 2.0 no quesito ódio ao Cristianismo. O livro ‘Fascismo de Esquerda’, do colunista conservador Jonah Goldberg, é assertivo quanto a esse aspecto: “[…] Ele gostava, particularmente, de ridicularizar Jesus, chamando-o de ‘judeu ignorante’ e afirmando que, em comparação com Buda, era um pigmeu […]”

Retornando à Itália como um emergente jornalista socialista, repetidamente acusava os padres de torpeza moral, denunciava a Igreja das mais variadas maneiras e chegou a escrever um romance popular com cenas de violência sexual chamado Claudia Particella, a amante do cardeal, recheado de insinuações sexuais. O pai fundador do fascismo não estava sozinho e teve o seu ódio anticatólico compartilhado pelos seus – tanto que, em 1931, o Papa Pio XI condenou o fascismo em sua encíclica Non Abiamo Bisogno.

Ao dizer que os fascistas não eram fãs de ideias científicas, o sr. Castanhari mostra que realmente não sabe nada do assunto. As noções de superioridade racial, supremacia da raça alemã e racismo odiento do nacional-socialismo alemão não tiveram origem nas tradições religiosas do país, mas na própria ciência moderna e no darwinismo social. Com o estabelecimento de raças superiores avançadas e raças atrasadas fadadas ao desaparecimento, o darwinismo lançou as bases da supremacia branca nos Estados Unidos e da eugenia na Europa. Adolf Hitler e seus seguidores aproveitaram algo que veio da própria ciência, não das suas imaginações psicóticas.

Para fechar com chave de ouro, ele nos brinda com outra pérola: a de que Hungria e Polônia são países fascistas nos dias atuais. Ambos os países foram estraçalhados pelo imperialismo comunista da União Soviética, sendo que a Polônia foi dividida entre comunistas e… nazistas. Mas a associação forçada tem método: ambas as nações são conservadoras, eurocéticos e rejeitam firmemente o globalismo.

Aliás, faltou pouco para o sr. Castanhari dizer o que ele quis dar a entender: fascistas são os malditos conservadores. O vídeo inteiro tem essa toada. Aí não é estudo sério e aprofundado como ele se gaba de ter feito: é fofoca pura e simples, baseada no mais profundo desconhecimento. O fascismo, apresentado pelo Felipe Castanhari é puro delírio. É o delírio favorito da esquerda brasileira.

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